sábado, 28 de setembro de 2013

CRISTO, A ÁGUA VIVA


Saía, pois Jesus pelo caminho
A fim de novas vidas resgatar
Seu jeito tão simplório e natural
A muitos conseguia encantar


Um dia indo ele no caminho
Mandou os seus discípulos procurarem
Lugar onde tivesse alimento
Pois precisavam já se alimentarem

A eles que embora sobejados
Na alma pelo pão celestial
Seus corpos lhe rogavam alimento
Por serem de feitio material

Enquanto os discípulos saíram
O Mestre viu sedenta outra alma
Puxou uma conversa com a mulher
Com jeito perspicaz e a voz calma

Mulher, disse-lhe Cristo, dá-me água,
E esta assustada o indagou
Sou eu uma mulher samaritana
Porque comigo fala o Senhor?

E Cristo com perícia lhe instigava
Desejo pela água salutar
Que a ela com candura oferecera
Dizendo que jamais ia secar

Seus mais terríveis erros revelava
Embora não se pôs a critica-la
E assim a sua alma ele ganhava
E a salvação se pôs a explica-la

Se, pois de minha água tu beberes,
Com engenho as palavras lhe tecia
Em ti se tornará em rica fonte
E nela encontrarás a alegria

Porque a água que de ti recebo
Em breve em sede se converterá
Porém a que a ti eu ofereço
Pra vida eterna te fará saltar

Enquanto conversava com desvelo
Os seus discípulos se aproximaram
E vendo o Mestre com mulher falando
Admirados, nada lhe falaram

Pois bem sabiam que samaritanos
Impuros eram a vista dos judeus
Mas conheciam dele a doutrina
Que pra salvar veio o Filho de Deus

Não tendes fome? Assim lhe perguntaram
E alguém com pão nas mãos a ele vai
Minha comida é, assim responde,
Fazer eu a vontade de meu Pai


E bem sabiam os que com ele andavam
Que o desejo divinal era salvar
A todos que cativos no pecado
Arrependido a ele se inclinar


Assim Jesus salvou aquela alma
Que sob o preconceito se afogava
Vencendo a ignorância, através dela,
A toda a sua aldeia resgatava


 Que seja pois o exemplo dele visto
Por todos que sinceros são a fé
Pra ele não existe diferença
Quer velho, jovem, homem ou mulher

Que pregues a verdade verdadeira
Sem preconceito a raça ou nação
Levando-lhes a Cristo , Água Viva
Que limpa e dessedenta o coração


Leila Castanha
09-2013












DIREITOS CIVIS




A mulher sai do carro com o rosto coberto porque chora devido a tensão de ter um revolver apontado para sua cabeça. Duas horas de negociação e o jovem delinquente não aceita se render.  Ele, não precisa encobrir o rosto porque os seus direitos são claros: A tarja é colocada sobre sua face antes de sua insanidade ser exibida na TV.

A mãe se aproxima, meio distante, convencida pela policia de amolecer a consciência da prole. Ela, que bem o conhece, mantém certa distante e tenta colocar juízo na cabeça do filho rebelde. Do outro lado da cortina da violência, o juizado de menor lhe reforça o ato criminoso, soprando-lhe aos ouvidos os seus direitos.

À moça aterrorizada seus direitos já foram exercidos durante o ato criminal: Ela pôde tremer de medo,  não reagir para proteger a vida e  ainda teve o direito de esconder o próprio rosto ao chorar.  À ele, embora tendo  furtado o carro da vítima e a sequestrado, foi primeiramente vitimado pela sociedade que o tratou tão mal a ponto de induzi-lo a tais atos criminosos.

A moça não devia tê-lo tentado com o carro luxuoso ou a joia a  mostra. Ela pagou por merecer. Na verdade,  ela foi ainda mais sortuda que o pobre gatuno, que só lhe enfiou a arma na cabeça por causa de sua incompetência  como vítima que culminou em  alertar a polícia que lhe saiu a perseguição.

Como paga pelo insulto e intromissão, os policiais poderiam até prendê-lo, mas que, diante da imprensa lhe assegurassem os seus direitos civis.

Ela, já tem direitos por demais: Saiu com vida e a partir de amanhã poderá voltar a seus afazeres costumeiros. O carro, ainda que danificado na fuga, deve lembrar-lhe o quanto teve sorte por sair ilesa, enquanto que o pobre menor, vítima da sociedade, será carregado pelos homens de farda.

Ele vai para a Fundação Casa e enquanto aguarda seus direitos ficará um ou dois dias, talvez um pouco mais, bebendo,  comendo e dormindo a custa das contribuições de suas vítimas e planejando um novo esquema, que seja mais perfeito, já que o fato de ali estar denuncia a falta de sucesso de seu “trabalho” anterior.

Ela também vai para trás das grades. Não porque os tiras a levaram, mas porque as imagens de suas lembranças de terror encarceraram-na atrás de janelas engradadas e de portas trancafiadas, no lugar na qual costumava chamar de lar.

Ele, em breve estará nas ruas e ninguém saberá quem é,  porque sua imagem foi preservada.  Seus direitos se encarregaram de fazê-lo livre antes mesmo de sair da prisão.

Ela, não tem a menor ideia de quanto tempo ficará cativa de seu medo e se um dia poderá gozar a liberdade. Seu nome foi exposto na mídia e sua imagem divulgada aos quatro ventos.  Seu carro e seus pertences pessoais que exibia no dia do incidente a incriminará sempre de incitar a violência no coração do “pobre” menor. Assim, se conseguir sair do cativeiro doméstico que seu medo a encarcerou, dificilmente ficará livre do cárcere psicológico e talvez nunca mais se dê a liberdade de fazer ou de usar o que bem desejar. Sua liberdade será restrita, medida e avaliada a partir da suposta reação dos marginais que, por ventura a aguardam para um novo ataque. Assim será sempre escrava dos menores infratores tendo de assumir uma posição reflexiva, ponderando suas decisões, a fim  de não incitar o aparecimento do  monstro escondido no interior dos pobres infratores que se manifestarão diante de seus olhos na forma de vagabundos ambiciosos e invejosos que preferem  subtrair a somar na sociedade.

Mas os direitos humanos tenta gritar aos ouvidos dela que o pobre “garoto” que a aterrorizou não é tão mal assim, afinal, estava agindo sob o domínio da droga.

Ela que agia com clareza de mente,  talvez devesse ser mais cuidadosa e não despertar a avareza na “pobre” criatura que,  aos dezessete anos, ainda não passa de uma criança.

O jeito é calar-se, pois quando a injustiça grita, ela não consegue ouvir o bom senso, e sendo a justiça cega, não pode ver  as dezenas de cidadãos honestos que são trancafiados em suas casas  cada vez que um menor infrator é posto em liberdade.

Assim, sorrindo e zombando de suas vítimas, o marginal é solto enquanto no interior de sua casa, aos prantos e com medo da própria sombra, ela murmura impotente:

- E ainda se fala em direitos civis.

 

Leila Castanha

09-2013

 

domingo, 8 de setembro de 2013

SER CRISTÃO


É lindo o falar das Escrituras

Sobre a vida cristã casta e pura

Que o ser humano deve adquirir

Falar do poder regenerador

Do  sangue sacro santo do Senhor

A todos quantos dele se cobrir


Dizer sobre as bem-aventuranças

De todas as palavras de esperanças

Que para os santos Cristo prometeu

Os dons e os talentos dispensados

A todo povo que abnegado

A suas instruções ouvidos deu


É  algo extremamente envolvente

Ouvir  sobre as vitórias que ao  crente

A Bíblia lhes garante pela fé

Falar sobre os homens que em seus dias

A exemplo de Davi e de Elias,

De Enoque, Abraão e de José


Viveram a vida pelo Santo Espírito

E pelo seu poder alçaram o grito

A mensagem do Evangelho a propagar

A toda raça, povo e nação

De Cristo anunciaram a salvação

A todos quanto o queiram aceitar


É belo ver os ideais de Cristo

Na cruz sofrendo por todos, aflito

A fim de ter um povo especial

Zeloso e  portador de boas obras

Aos quais lhes ensinou muitas manobras

Pra conservarem-se livres do mal


O  amor que Paulo tanto incentivara

Que a exemplo de Jesus estimulara

É ingrediente jamais dispensado

Não pode haver no meio dos de Cristo

Qualquer pessoa que não saiba disto

E  possa a salvação ter aceitado


Porque o sangue de Cristo, o Cordeiro

Possui  propriedades, que certeiro

Liberta o homem do tão vil pecado

E no lugar de toda perdição

Coloca nele um novo coração

E amor como jamais tinha provado


É um sentimento puro e verdadeiro

De um povo cujo amor é altaneiro

Sem sentimentos vis de sedução

É o amor que doa, sem pecado

Ao que lhe fere tem por perdoado

E ao que precisa estende-lhe a mão



Porquanto nada pode neste mundo

Por mais complexo e mais profundo

Equiparar-se  a mente humana

Somente um coração cheio de amor

Consegue suportar o pecador

E ainda amar aquele que não ama


Somente um coração cheio da graça

Vitorioso é sobre a desgraça

De ter por seu irmão um ser fingido

Apenas pelo novo nascimento

Que o crente chega a ter tal sentimento

E na provocação é comedido


Sem esse coração modificado

Ninguém pode achar-se transformado

E nem reconhecidos por  cristãos

Em Cristo, a salvação tendo alcançado

Por certo um coração modificado

Alcança os que se chamam de irmãos

Leila Castanha

09-2013














FAZ PARTE


Imagem extraída de https://www.wikihow.com


Certo dia, enquanto eu lavava a louça da janta, meu filho se aproximou de mim e me fez uma confidência:

-Mãe - disse-me ele - estou triste!

-Por quê? - Indaguei sem lhe dar muita atenção.

-Não queria ter de voltar às aulas tão depressa, confessou-me. Porque as férias passam tão rápido?

-Não se preocupe- respondi-lhe enquanto continuava o meu afazer - isso faz parte.

-O quê faz parte? - Inquiriu-me ele franzindo a testa em sinal de que não conseguira digerir minha resposta.

-A tristeza, respondi-lhe sem rodeios.

-Parte de quê? - Perguntou-me tentando evidenciar minha ineficiência em responder uma pergunta tão simples.

-Da vida, meu filho, da vida - respondi-lhe voltando-lhe rapidamente o olhar. 

Parece que o garoto entendeu minha resposta, ou percebeu que perderia seu tempo ao esperar de mim uma explicação mais razoável, pois logo que lhe respondi se retirou de minha presença.

Continuei lavando a louça enquanto meus pensamentos retornavam ao questionamento de meu filho e ponderei sobre minha resposta tão reticente, que por certo me deixaria envergonhada se eu estivesse sendo assistida por Sócrates, Platão, Nietsche ou outras mentes geniais da filosofia.

Relatei este incidente porque foi exatamente isso que fiquei pensando durante toda a execução de meu trabalho na pia: Por que temos de passar por momentos ruins?

Enquanto pensava me veio à mente uma ideia em forma de resposta a qual achei digna de ser avaliada. Por isso, finalmente decidi expô-la.

A primeira coisa que me ocorreu foi: Temos uma maneira errada de ver as coisas.

Por exemplo: Se em uma manhã, exatamente a hora em que precisamos sair de casa, começasse a chover, dezenas de pessoas ficariam irritadas e cada uma reclamaria do clima conforme lhe permitisse a sua educação. A chuva naquele momento seria encarada pelo mau humor de quem se preparou a noite toda para ir ao parque de diversões. Seria vista como um enorme atraso de vida por aqueles que precisassem pegar as marginais alagadas de São Paulo. Seria odiada pelas donas de casa que tivessem seus tanques cheios de roupas e nenhum sol para secá-las. Os banhistas falariam mal da água que cairia sobre eles lhes impedindo de cair nelas. E assim por diante.

Muitos sequer parariam para pensar no bem que a chuva traz aos terráqueos. Também não se dariam conta de que se fosse preciso esperar o mundo parar, de forma que ninguém saísse de suas casas para que a chuva caísse, nunca choveria. Sempre há um ingrato na rua pronto para verbalizar inúmeros xingamentos como recepção às águas torrenciais ou as simples garoas que lhes caem à cabeça. Fomos criados alienadamente, enxergando só o que nos convém no momento chamado agora. Fomos instruídos a ver apenas a metade do todo. Fomos educados a ser efêmeros e rasos.

 Não sabemos olhar os acontecimentos a longo prazo e não temos paciência suficiente para nos entregar a meditação antes de abrirmos a boca para absolver ou condenar o que acontece a nossa volta. O nosso passeio de hoje é mais importante que a necessidade do solo de se embeber para nos produzir o alimento futuro. Não podemos sair mais cedo ou chegar mais tarde de/ em nossos destinos, mas achamos que o tempo deve esperar nossa chegada, antes de desabar em águas, mesmo que sejam elas que alimentam as nascentes que nos mantém com vida. Não aceitamos ficar com as roupas sujas no tanque, embora precisamos da chuva para ter mais água para lavá-las. Odiamos sermos impedidos pelas torneiras de São Pedro, mas também não admitimos nadar em um mar de areia.

Santo Deus! Como me envergonho de fazer parte disso! Parece que há tempo paramos de ser Seres Humanos e  nos tornamos apenas terráqueos. Seres humanos precisam usar suas capacidades mentais, já que é isso que nos diferencia dos animais. Mas, se tem algo que nós não costumamos fazer é pensar.

Creio que um dos grandes erros da humanidade é que desde a infância aprendemos as coisas pela metade. Nossos pais, zelando pela nossa felicidade, idealizaram para nós os verdejantes campos e nos ensinaram a nunca descermos a montanha do nosso porto seguro. O lado negro e sombrio da vida nos foi severamente impedido de trilha-los e a eles deram o nome de fracassos. Fomos alertados a sempre buscarmos o caminho da solidez e do progresso e devidamente avisados que, somente um fraco e sem inteligência desceria ao vale de angústia, independente da situação que os fez chegar lá. Chorar, aprendemos que é coisa dos fracos, especialmente se for homem: homens não choram! - Ouvimos a repreensão de nossos pais. 
Se nos sentimos tristes, jamais podemos demonstrar para não ferir a boa convivência. Sorrir é o nosso modo de mostrar quão felizes somos! Se a situação financeira apertar o melhor é esconder de todos nossas burradas cometidas, afinal, o bom cidadão não faria uma asneira dessas, diriam os mais “experientes”. Se mentimos alguma vez, por pior que a mentira seja,  confessá-la não seria o mais indicado, afinal, quem há de acreditar nos motivos de um mentiroso? Em suma: Fomos ensinados a ser hipócritas!

É, de certo modo, irônico, mas os seres mais imperfeitos, conhecidos por seres humanos, é a criatura mais hipócrita que já conheci! Preferem viver de mentiras a assumir que todos nós temos altos e baixos e que durante nossa existência nesse planeta vivemos em cima de uma corda bamba, onde basta um deslize e levamos aquele tombo! E como é comum ver humanos caindo!

Tudo o que nos agrada no momento presente é denominado “bom”. O que nos desagrada é “ruim”. Os momentos fáceis do lazer e o conforto da nossa ociosidade nos são mostrados como o lado bom da vida, e por eles trabalhamos e derramamos o nosso suor. O trabalho em si e a busca pelo conhecimento são vistos como ruins porque exige esforço, fadiga e... Muita espera. Odiamos esperar! Fomos ensinados a buscar o efêmero e desprezar o duradouro.

Fomos, de certa forma, enganados por pessoas que anteriormente também o foram. Infelizmente, esses momentos ditos “ruins” os quais repelimos de nossas vidas como pragas temidas são encarados da mesma maneira como a maioria de nós encara a morte: Todos sabem de sua existência, mas, a despeito disso,  preferimos  acreditar que somos imunes a ela, quando a verdade é que tanto a morte quanto os momentos ruins em nossa vida são do tipo que tardam, mas não falham. Certamente virão. Sim, os “bons” e os “maus” momentos. E o problema é que nos falaram tão pouco sobre o lado escuro da existência que hoje não nos sentimos preparados para enfrentá-lo! Fomos programados para viver uma vida ensolarada sem sequer uma nuvem negra.

Às vezes perdemos infinitas horas em lágrimas por causa de uma burrada que cometemos e nos descabelamos como se isso não fosse algo natural. Acorda amigo, desde que nos entendemos por gente sabemos que o ser humano é totalmente imperfeito e cem por cento sujeito a deslizes e falhas. Não deveríamos nos surpreender: Ser quem somos apenas vai determinar quais sejam as situações que mais vivenciaremos, mas ambos os momentos, os bons e os ruins, hão de nos alcançar enquanto habitarmos no planeta Terra.

Porque ficamos desolados com nossos erros como se o próprio Deus houvesse errado? Somos humanos, imperfeitos, fazemos julgamentos errados o tempo todo e estamos diariamente tentando desviar o pé do próprio buraco que nossa insensatez constrói todos os dias.

Se cairmos nele, calma, isso faz parte! O que não podemos é desistir de tentar retornar ao topo. Recomeçar é o verbo que deve ser diariamente conjugado pelos seres humanos. Somos um infinito círculo de recomeços. Ficamos em cima, caímos e tornamos a subir. Isso é o ser Humano. Somos eternos aprendizes!

Chorar, lamentar, se entregar a depressão ou a morte faz parte dos momentos de nossa existência, mas lutar, reagir, clamar por ajuda, esforçar-se por sair do poço em que caiu também faz parte. Todos os nossos momentos são inconscientemente planejados por nós ou pelos outros, mas mesmo assim, não tem novidade nisso: Tudo o que passamos faz parte, amigo, faz parte!

Parte do quê?! Da vida, ora bolas!

Os maus momentos também nos ensinam lições e nos deixam mais resistentes, enquanto que, ás vezes, o que é reconhecido como “momentos bons” podem nos trazer marcas incuráveis e nos levar aos momentos ditos ruins.

As coisas não desejáveis que nos sucedem, mesmo que forem feitas por irresponsabilidade ou por deslize nosso, também são momentos que deveriam ser reconhecidos como naturais da vida, nem sempre corretos, mas naturais, pois desde que nos entendemos por gente sabemos que o ser humano é imperfeito e passível de erros, daí o ditado: “Errar é humano...”.

Portanto, amigo leitor, cheguei a conclusão de que aquela fase, considerada a pior situação que já nos envolvemos, não é, de fato, o fim do mundo, mas apenas nossa humanidade nos convidando a recomeçar e dar a volta por cima. Nossa vida é feita de momentos bons e ruins, e são a junção de todos esses momentos que formam isso que chamamos  “vida”. 

Leila Castanha
09-2013



quinta-feira, 5 de setembro de 2013

MEUS IRMÃOS

Imagem extraída de http://3.bp.blogspot.com

São sete. Todos diferentes e únicos. Alguns se parecem com o outro, embora eu não os ache parecidos, mas têm os que discordam de mim. No jeito de ser, aí penso que se pareçam mais, embora alguns sejam mais, e outros, menos introspectivos, uns gostam mais de estar à roda de amigos, enquanto outros não curtem tanto a presença dos de fora de seu círculo familiar.
Uns são mais contidos e outros mais estourados. Tem os mais espirituais, no que tange a religiosidade, e outros mais céticos. Uns mais espirituosos e outros mais sérios. Uns são mais sonhadores, e outros mais pé no chão. Uns gostam muito de música, enquanto outros amam a leitura, e ainda outros apreciam a ambos, ou a nenhum deles. Uns roqueiros, outros sertanejos, e outros que curtem nem uma nem outra coisa.
Alguns são casados, outros solteiros, uns com filhos e outros sem.
Sonhos, todos têm, e muita garra para alcançar os seus objetivos, embora nem todos estejam cientes disso.  Nas suas peculiaridades sabem ser bons pais e companheiros para seus cônjuges.  Alguns se mostram mais presentes para com os parentes, enquanto que outros preferem um pouco mais de afastamento. Não que estes sejam cruéis ou indiferentes, mas porque não gostam de sentirem-se invadidos, logo, interpretam por invasão a muita proximidade.
Tenho minhas preferências no que tange a peculiaridades, afinal, sempre tem, entre os irmãos, os que têm mais em comum com o outro.  Não vou enumerar os que fazem parte de minha estima, porque isso não passa de afinidades, e não muda a relevância que os demais  têm em minha vida.
Nem todos entendem o nosso jeito de ser. Eu também, às vezes, não entendo.  Mas, uma coisa podemos afirmar a nosso respeito: Somos quem somos, e cada um de nós procura viver do melhor modo que acredita.
 Não é fácil aceitar as diferenças alheias. Mas, tendo sete irmãos, acho que o tempo está me tornando especialista em comportamento humano.  Sim, humanos eles são. Mesmo quando discutíamos, coisa rara de acontecer, mas comum entre irmãos de sangue, nenhum se recusava a socorrer o outro na necessidade. Caso este, que denunciava os mais emotivos, que iam logo perdoando e confessando seu apreço pelo outro, mas que também mostrava os que, mais geniosos, continuavam mostrando-se indiferentes, mantendo a carranca fechada, mas estendendo a mão em auxílio do outro. Ou seja, do jeito de cada um, todos certamente estarão lá quando realmente a necessidade os convocar.
Meus irmãos são pedaços que fazem parte de mim e, talvez, por isso, vejo um pouco de mim em cada um  e um pouco de cada um em mim.
Tenho sete irmãos, sete modos de ver a vida e aprender com ela. Para melhor me fazer entender, vou tentar desenhá-los através das letras.
Um de meus irmãos tem um lado extremamente cômico. Faz todos se embolarem de rir, sem precisar fazer esforço.  Ele adora amizades e está sempre rodeado pelos amigos que, inclusive, o estimam muito. É um tanto impulsivo, de forma que muda de opinião com muita facilidade. Às vezes, se mostra genioso, mas seu lado mais preponderante, o caracteriza como uma pessoa boa, amiga e muito divertida. 
Outro de meus irmãos também curte muito as amizades e tem seus amigos em grande consideração, estando sempre pronto a defendê-los e trata-los como os da própria família.  Aprecia bastante o aprender e é muito ligado a leituras várias. Um verdadeiro ser investigativo, e sabe ser conselheiro quando lhe apraz. Quando de boa vontade, é um ótimo companheiro nas rodas de conversa e, embora tímido, sabe fazer-se falante, obtendo muita facilidade de conquistar amigos.
Dentre os outros cinco, há aquele que, sério e pé no chão, é reservado e seu mundo é voltado para o prazer de curtir a família, ouvir suas músicas favoritas e apreciar um ou outro livro. Porte sério, de lado mais introspectivo, sabe ser útil quando a necessidade lhe dá ocasião. É direto em suas opiniões, tem personalidade forte e procura sempre apoiar sua crença pela via do palpável e visível. Mantém seu lado tímido, e, sua fala rápida, contrasta-se com seu jeito desligado e sua aparência tranquila. É um tanto genioso, mas a despeito de sua aparência austera, tem um coração sensível.
Outro dos meus irmãos costuma divertir-se fazendo-nos rir com seu jeito extrovertido e seu modo peculiar de imitar as pessoas que conhecemos. Sua perícia é tão grande nesta área, de forma que é capaz de nos transportar ao ser original de suas imitações. Vaidoso, procura manter um jeito fino. Sua personalidade tranquila é capaz de nos deixar loucos de impaciência. Se não me falha a memória, sua palavra-chave é “calma!”. Apesar da aparente morosidade, é extremamente ágil em ser prestativo.  E, claro, não poderia me esquecer de sua típica gargalhada. Seu modo descontraído e alegre é um ponto culminante para atrair amigos.
Há aquele cujo jeito de ser é totalmente peculiar: Tímido, um tanto introspectivo, mas bastante agradável como companheiro de conversa. Voltado à leitura e dedicado àquilo que aprecia, sabe ser simples, embora não se afaste de suas convicções. Suas paixões são, dentre outras, a música, os livros, a arte e os bons filmes, os quais são sempre inspirações em suas conversas, que sem se dar conta, me inspira e motiva.
Reservado para os que não alcançaram seu apreço é, pelo contrário, extremamente gentil e cortês para com os que lhe caem na graça. Voltado à família, sabe ser ótima companhia, de forma a nunca se esquivar a acompanhar-nos aos porões de nossas memórias do passado até encontrarmos, num lugar remoto, o nosso primeiro lar.
O outro há muito incompreendido por seu coração aberto, apesar de às vezes zangar-se, não costuma guardar rancor de ninguém. Aprecia o lado chique da vida e curte os lugares belos da cidade. Tem um jeito um pouco esnobe, apesar de não passar de impressão de quem não lhe tem intimidade. Geralmente exibe um sorriso franco no rosto, mas quando algo não lhe agrada, o mesmo rosto transforma-se no espelho a refletir a desaprovação de sua alma. É criativo e capaz quando a oportunidade lhe dá chance, e embora não tenha explorado todo o seu potencial, a cada dia tem se superado a ponto de ser capaz de transformar suas dores em lindas poesias.
Ainda há outro que, sob a influência de sua timidez, não gosta muito da exposição. Seu jeito recatado demonstra, ao mesmo tempo, seu lado tímido e sua personalidade forte. Apesar de mostrar-se um pouco inseguro, é hábil em trabalhar sua vaidade e as dos outros, e se algo lhe interessa pode aprender com facilidade.
Ouvinte excelente é, certamente, um ótimo interlocutor. Prefere a companhia dos mais próximos a estar com estranhos. Genioso, às vezes torna-se explosivo, mas se convencido de seu erro, é capaz de voltar atrás. Para com os que provocam sua ira mostra orgulho próprio, enquanto que com os de sua estima sabe ser ótima companhia.
Se repararmos bem todos tem suas diferenças e peculiaridades. Por isso me incluo entre eles. E, talvez por essas peculiaridades e diferenças é que encontrei os meus melhores amigos entre os meus sete irmãos.

Leila Castanha
08-2013


quarta-feira, 4 de setembro de 2013

ELA E EU


https://gartic.com.br/imgs/mural/ca/catarrodecamelo/se-ela-danca-eu-danco.png

Ela chegou.  Mansinha, com jeito de quem não quer nada, instalou-se junto a mim. Seus olhos tem um ar pensativo e perdido, como se sempre procurasse por algo. Seus lábios tem forma de tristeza misturada com ansiedade. Seu corpo tem aspecto preguiçoso e melancólico que passam a impressão de um peso que o sobrecarrega. Suas mãos, sempre nervosas, costumam procurar os olhos para enxugar-lhes e vez por outra apoiar o rosto, num movimento de apatia e canseira. Os pés são inquietos e balançam energicamente demonstrando grande ansiedade mesclada com um vazio. A voz, ora normal, ora embargada, faz cortar o coração de quem ouve. 
Geralmente, ficamos a sós quando ela chega.  Só ela e eu.  Costumamos passear juntas pelas estradas do passado e observamos longamente os detalhes em nossa caminhada. Falamos de tudo: Eu prefiro referir-me ao presente, mas ela sempre me faz voltar ao passado, levando-me a mergulhar no delicioso rio das recordações. Ela atiça o fogo da minha memória e quanto mais lenha põe mais queima a minha alma me fazendo sofrer. Seu poder de transportar-me ao passado é tão eficaz que consegue trazer à tona lembranças há muito sepultadas, tanto boas quanto ruins, mas ambas totalmente benéficas em algum lugar do passado.
Mostra-me, como em fotografias, cada momento que curti e que hoje não os tenho mais.  Às vezes a acho bondosa por não deixar-me esquecer das pessoas, dos lugares e das situações que me fizeram felizes neste mundo. No entanto, há momentos que a acho sádica e totalmente sem escrúpulos, quando faz renascer em mim as dores esquecidas ao trazer-me lembranças , que embora não sejam ruins, só pertencem aos tempos remotos de minha existência.
Fico alguns minutos e até mesmo horas em sua companhia. Às vezes agradável, mas outras vezes extremamente prejudicial ao meu coração.  Preciso dela para sentir-me viva, porém, às vezes ela me faz ter vontade de morrer. Desejo tê-la perto de mim com a mesma intensidade que a quero longe. Perto, quando me faz rir, ao levar-me a nadar no rio de minhas venturas situado no longínquo anos dos meus dias remotos. A quero longe, quando me rasga a alma com a dor de uma lembrança feliz que só existe no meu baú de recordações, o qual fica trancado a sete chaves no porão do meu passado, e por mais que o deslumbre não tenho autorização de novamente apropriar-me deles.
Essa dama me fascina e me faz temê-la. Sou sua senhora e sua escrava. Chamo-a para um passeio em meu feliz passado e ela prontamente me atende, mas rebelde como é, também costuma surpreender-me, levando-me a palmilhar sobre minhas próprias pegadas, a seu bel prazer e a despeito de minha vontade.
A ela meu coração se curva porque é mais forte do que eu. É mestra em persuadir, de forma que me faz pensar em fatos e pessoas que jurei não mais me lembraria. Faz-me sentir no controle para depois armar-me ciladas em minhas próprias aventuras. Geralmente, retorno de nossos passeios com o rosto envolto em lágrimas e o coração partido. 
Ela é enigmática, doce e ao mesmo tempo cruel. Apresenta-se sempre como amiga e confidente, no entanto, quando confiamos nossos pensamentos a ela, não resiste em brincar com nossa alma solitária. Ela derruba e levanta a quem quer, bastando aumentar ou diminuir a dose da solidão, no coração reminiscente. Seu império alcançou o mundo e seu nome é coroado entre os séculos.  É a rainha dos que vivem no ostracismo. 
Ela é minha lembrança boa que nunca há de se perder. Sou eu no tempo que nunca mais voltará. É meu passado e a garantia de minha identidade presente. É minha amiga leal e também meu algoz. Ela é uma velha conhecida minha, que sempre esteve presente e nunca me abandonará. Seu nome é Saudade.

Leila Castanha
09-2013