terça-feira, 19 de novembro de 2013

A FASE




“Não vejo a hora de sumir desta casa!" - ouvi uma voz aos berros -“Droga de vida! Não sei pra quê nasci...”
Em seguida, ouvi uma pancada na porta, que pela distância do barulho deduzi vir de um dos quartos. Respirei fundo e continuei a lavar a roupa suja.
O som da música, quase no último volume, bailava pela casa afora enquanto eu tentava segurar o ritmo alucinado que dava nós nos miolos dentro da minha cabeça. Já  sem paciência, larguei a roupa sob o tanque e disparei até o local do desatino.
“Que é isso?!” - falei o mais alto que pude, tentando vencer a altura do som do rádio e a cantoria da autora do show ensurdecedor.
Vi diante de meus olhos perplexos a imagem de uma pedra: Surda, cega, e totalmente alheia a minha presença. O som continuou no mesmo volume e a cantoria em nada foi alterada.
“Fulana!!!” Gritei segurando meus nervos que já estavam a flor da pele.
“Que é?!” Gritou a garota, voltando o rosto em minha direção com um olhar cheio de ressentimento e a respiração frenética.
“Você tá doida?!”- As palavras saíram de minha boca sem meu consentimento - “Quer me enlouquecer?!”
“Eu odeio esta casa!”, disse-me, enquanto desligava o alarmante som.
Com a mesma brutalidade com que desligara o aparelho, jogou-se na cama de bruços, como se não houvesse ninguém mais no quarto, além de si mesma e sua rebeldia.
“Qual é o seu problema?”, perguntei-lhe tentando entender o que causara aquele comportamento.
“Meu problema é ter nascido.” - respondeu-me, sem voltar-me o rosto.
Sentindo uma pontada de desapontamento por não tê-la  educado adequadamente, preparei-me para desfazer meu erro colocando juízo naquela cabeça. Abri a boca para deixar fluir as palavras que lhe mostraria quão privilegiada era por ter nascido em nosso lar:
“Escute filha...” - Foi tudo que consegui falar, pois, com agilidade, roubou-me a vez da fala e substituiu todas aquelas belas frases que ensaiei e as resumiu em três ou quatro palavras: “Blá, blá,blá, blá...” - Repetia, enquanto olhava-me com desdém - “Vai começar tudo de novo, mãe? Já sei de cor tudo que você vai falar”.
 Sem tempo de recuperar-me do choque, olhei para aqueles olhos frios, e como recompensa pela minha criação recebi de sua boca um som ininteligível, que se articulado em palavras seria mais ou menos assim: Dammmmmm!
Saí daquele quarto as pressas, tentando esquecer minha posição de autoridade já  que a ideia que me ocorria no momento era meter a mão naquele rosto que tanto beijei.
“Não!” - sussurrava-me o bom senso e o amor materno - “Perca agora para ganhar depois”.
“Ganhar o quê?” - gritava meu orgulho ferido - “Uma filha ingrata e uma gastrite nervosa?!”
Enquanto era vítima de meus conflitos interiores, andei pela casa para evitar agir por impulso. Ao chegar de volta ao tanque peguei a primeira roupa que me veio à mão quando senti meu corpo e minha alma sacolejarem aturdidos por um grito agudo e estridente que irrompeu pela casa: “Mãeeeeeeee!   Manda esse moleque parar de me encher o saco, ou vou arrebentá-lo!”
Foi a gota d’água: Joguei a roupa no tanque e saí guiada pela ira que me possuía. Dirigi-me ao quarto com o intuito de liberar toda a minha raiva. Entrei, bati a porta com violência, joguei-me na cama de bruços e pus-me a chorar: “Que droga de vida!” - Falei entre soluços - “Não vejo a hora de sumir dessa casa!”.
Abri os olhos e ao lado da minha cama vi o mesmo rosto familiar que quis estapear horas antes, de cujos lábios emanaram uma voz doce e branda: “Mãe, tá tudo bem com você?”
“Tá, sim, filha”, respondi-lhe entre soluços,  “É só uma fase que estou passando!”.
Levantei-me, lavei o rosto embebido em lágrimas, olhei-me no espelho, e sentindo-me ridícula, sorri ao relembrar da cena embaraçosa: “Deus, que fase louca que estou vivendo!... Virei mãe de adolescente!!! 
“Calma!” Reconheci a voz da experiência: “É só uma fase! Isso passa...”

Leila Castanha
11/2013

domingo, 3 de novembro de 2013

SÓ O TEU AMOR!


Extraído de https://oteubemestar.files.wordpress.com/2018/05/amor

Estou só nesta manhã ensolarada
E para mim, o dia belo vale nada;
Geme em mim a multidão de meus desejos:
Aplaca-os, amor,  com os teus beijos!

A sorte má ouriça-me os pelos;
Teus dedos faz roçar em meus cabelos!
Triste estou pelo perder dos meus anseios:
Embala-me, amor, junto a teus seios!

A lágrima me invade o triste rosto
Da vida, aos poucos , vou perdendo o gosto
Preciso me perder entre teus braços!
Reponha-me , amor, com teus abraços!

Minha face triste por tanta ilusão!
Traz alegria ao encostar - me a tua mão!
Eu choro os desencontros do caminho:
Consola-me, amor,  com teu carinho!

Meu corpo tremulando e desolado,
Permita-me aquecê-lo  ao teu lado.
Meus olhos tão inchados de chorar...
Alegra-os, amor, com teu olhar!

Não quero mais sentir tanta despeita!
O mundo vil me trata com desfeita!
Na cama, em teus braços, me inflame
E sob o corpo quente, amor, me ame.

E nessa hora a chama ardendo em nós,
Me deixe, amor,  ouvir  a tua voz.
Enquanto em teu  corpo eu me inflamo
Sussurre as três palavras: Eu te amo!

Então,  me refarei qual sol fogoso,
E em mim  verás a flor  abrir-se em gozo!
Assim  quando a injustiça me acercar
No nosso forte amor vou me firmar.

Leila Castanha
30/05/2013














MEU HERÓI





Eu tive um pai do qual muitos, apesar dos seus intuitos, não puderam jamais ter
Um amigo mui presente, que quando eu bem carente, a mão vinha me estender
A mão forte e amiga ignorava a fadiga pra poder me acalantar
De mim jamais se ausentara e também nunca negara seu amor me ofertar

Quando era pequenina, sendo eu 'inda menina, na vida estando a crescer
Sua presença a mim grande, qual guarda-costas gigante, presente a me proteger
Sua voz tão grave e forte apontava-me o norte para que eu não errasse
Mas, embora com amor, me educava com rigor, pra que segura eu andasse

Com carinho me guiava e com vigor trabalhava pela minha educação
Lápis, caderno, borracha, no lanche suco e bolacha, nunca faltou provisão
A roupa sempre obtive, pois com seu suor eu tive as coisas que precisei
Se hoje sou o que sou, eu devo a esse senhor tudo quanto conquistei

Pobre, mas sempre nos trilhos, com esposa e muitos filhos, nunca nos desamparou
Sempre proveu o alimento, todo tipo de sustento e a família amparou
Ele foi homem honrado, um caboclo arretado, que cumpriu sua função
Cuidando  dos filhos seus, com a ajuda de Deus e muita dedicação

Sei que pra muitas pessoas, esta data nada soa porque não tiveram pai
Apenas progenitor, desconhecido senhor, além disso nada mais
Mas eu tive a alegria, de vir ao mundo um dia, sendo privilegiada
Quem teve um pai como o meu, pode saber por que eu me sinto abençoada

Agradeço ao Deus do céu, por ter me sido fiel, me fazendo jubilosa
Dando-me ao coração esta grande sensação de sorte maravilhosa
Por ter um progenitor, cuja hombridade e valor, foi algo fenomenal
Um homem mui dedicado, cujo amor. abnegado,  me foi incondicional.

Obrigado meu senhor, pelo teu grande favor e tua imensa bondade
 Por ser desse homem fruto, cujo amor inda desfruto nos recantos da saudade
Nem sempre a vida é bela porque há agruras nela, como a morte que nos trai
Porém venço em oração, conforme a educação que recebi de meu pai

E este é  meu legado, ser  qual filho aventurado àquele a quem eu gerar
Ser muito mais que tutora, não simples progenitora, mas o meu filho amar
 Dar a ele um lar cristão, e do meu pai a lição os meus lábios ensiná-lo
Qual meu velho ser esteio, a Bíblia ser o luzeiro que a Jesus irá levá-lo

E assim eu terei feito minha missão com efeito a exemplo de meu velho
Que somente o bem me fez, e agora é minha vez de pagá-lo o ato belo
Criarei os seus netinhos com turbilhões de carinhos sendo uma mãe de valor
 Em meu pai tendo a cartilha, que os levará para a trilha cujo fim é o amor.

Leila Castanha
10/2013