terça-feira, 28 de maio de 2013

PARTE DE MIM



Solidão. Um vazio na alma que não sei explicar. Falta de algo que me faz roer as unhas e deixa-me visivelmente inquieta.
Noite vazia e o sono não vem. Rolo na cama a procura de uma posição confortável que me expulse a insônia e me embale num sono profundo até que o dia amanheça. No entanto, os olhos continuam escancarados, vidrados no teto descascado sobre a cama, olhando tudo e nada vendo. São olhares dispersos no nada. Quem vê e quem sente são os pensamentos que escapam as rédeas de meu querer e se perde a procura de uma razão para meu mal estar.
Mente solta e o pensamento a rondar cada resquício de conjecturas que podem me fazer chegar à razão final de meu vazio. Procuro longa e detalhadamente em cada canto de meus lugares costumeiros para ver se acho uma justificativa.
Em pensamentos, adentro a faculdade e deparo-me com mil preocupações que circundam ao redor de trabalhos acadêmicos, testes para nota, cuidados com o limite de faltas, enfim... Entro e saio do ambiente universitário e concluo que tais motivos não seriam suficientes para me tirar os pés do chão. Sou capaz! Penso aliviada. Isso não pode me derrubar!
Viajo, então, pelas vias do pensamento e chego à porta de meu trabalho. Está fechada. Penso, reflito e lembro-me que estou fora da classe trabalhista, estou desempregada. Por um instante, acho que encontrei a causa de meus infortúnios.  Sem emprego, sem dinheiro, sem vida.
 Procuro na memória a soma de minhas contas e descubro que são mais altas do que posso pagar. Minha cabeça gira e tenho vontade de chorar. Sinto-me encurralada com medo dos credores que certamente exigirão de mim a parte que lhes devo. Mas, apesar de minha angústia, sinto que ainda não é esta a causa de meu mal estar, porque já me senti assim antes, mesmo quando não devia a ninguém e podia considerar-me financeiramente estável.
Desta vez é como se um pedaço de mim estivesse perdido. É como se um lado do meu Eu houvesse ficado comigo e o outro se encontrasse em algum lugar distante. O sentimento não era de perda, mas de distanciamento. Como se um bichinho corroesse o fio de minhas alegrias e ameaçasse parti-los a qualquer momento. Sinto vontade de me encolher e chorar.
Fecho os olhos e respiro fundo. Não vejo motivo para tanta tristeza e vazio! Ralho comigo mesma e peço que me recomponha a fim de pensar melhor. Sento-me ao leito e olho para o lado de minha cama onde jaz um travesseiro preguiçoso. Apoio meus cotovelos nele e fico reclinada, com a cabeça apoiada nas mãos e os olhos correndo o quarto a procura de descobrir algo que me ajude a retornar ao meu estado de euforia.
Sinto um cheiro familiar. Uma sombra começa a tomar forma em minha imaginação. Com ela a mente vaga a procura de uma identidade. Baixo os olhos e pairo sobre o lugar vazio ao meu lado. Abraço o travesseiro frio e finalmente entendo o que sinto.
Sinto falta dele, que há poucos dias saiu a trabalhar em outra cidade, pernoitando no serviço devido à distância de nosso lar. É o meu pedaço que se afastou de mim e que, a princípio, nem notei. É o meu lado ausente que só hoje me dei conta porque o coração resolveu gritar sua falta. É o meu Eu que se foi deixando-me incompleta. É o Tu que misturado ao meu Eu transformou-se em Nós, cujas amarras me enlaçam e me envolvem de tal forma que já não posso me desprender.
 Não sinto falta dele, mas de nós. Somos um, assim como o peixe não pode subsistir sem a água e o fôlego não subsiste sem o oxigênio. Sinto saudades de mim, do meu outro Eu que me traz alegria e completude. Sinto falta da minha outra metade cuja presença espanta minha solidão. Sinto-me mal porque ninguém há que se contente em perder um pedaço de si mesmo. Somos únicos, somos um. Estou com saudade!
Acaricio o travesseiro como se fosse seu rosto e murmuro tendo na face uma lágrima quente e um sorriso tímido: “Para com isso, que infantilidade! Você é autossuficiente!”.
E lá do recôndito de minha alma ouvi o grito do meu coração que gemia: “É tarde! Ele já faz parte de mim!”.
Então, vencida pelo argumento do meu coração, enxuguei as lágrimas, peguei o celular e disquei um número gravado:
-Alô! - Disse a voz do outro lado.
-Te amo! - Respondi quase sem ser ouvida.
-Tá tudo bem?” - Perguntou-me a voz, sem entender o que se passava.
-Tudo! - Respondi mais recomposta. - Só liguei pra dizer que te amo.
-Eu também te amo - Respondeu-me, confuso.
Desliguei o telefone, deitei-me do seu lado da cama, abracei o travesseiro e dormi embalada pelo eco de sua voz a sussurrar em meus ouvidos:
 “Eu te amo! Eu te amo! Eu te amo!”.

Leila Castanha
28/05/2013






sexta-feira, 24 de maio de 2013

PARABENS PELAS BODAS DE PRATA!


Louvo a Deus neste momento
por este grande evento
festejado nesta data
Neste dia especial
parabenizo o casal
por vossa bodas de prata

A esposa do irmão
digo com grande emoção
que és privilegiada
Por confiar teu amor
a um servo do Senhor;
mulher bem-aventurada!

Também digo ao esposo
que sinta tremendo gozo
por ter uma irmã de fé
pois durante os sofrimentos
recebeste mil alentos
desta joia de mulher


E nos anos derradeiros
possais lembrar prazenteiros
este memorável dia
E com imensa emoção
lembrem de vossa união:
Vinte e cinco anos de alegria!

Desprezando o sofrimento
preservais o casamento
mantendo a compreensão
Até que um dia no céu
dar-se-á além do véu
vossa eterna união


autoria: Leila Castanha
1993



quinta-feira, 23 de maio de 2013

AOS POETAS DA VIDA!




O casamento é um passo importante em nossa vida
A união de dois corpos, cujas almas são unidas
Uma aliança firmada, um pacto, um testamento,
Cujo fim cumpre com a morte lacrando o sepultamento

É belo de ouvir falar sobre este tema altaneiro
Que fascina e faz sonhar ao jovem que é solteiro
Mas que o inverso produz em alguns, dos que casado,
Viveram a triste historia de amar sem ser amado

É triste a realidade de dezenas de casais,
Que buscando alegria, casando perderam a paz
O amor que em outros tempos foi vivido em demasia
Fracassou ao ter perdido de seu ventre a poesia

Plantaram mil esperanças seguindo os mesmos trilhos
Cujo fim findou-se em gozo, onde só colheram filhos
Pobres frutos semeados nas delicias do prazer
Cujas chamas, descuidadas, esfriou até morrer

Indiferença e rudezas semeadas, pois, qual vento
Destruiu o fogo ardente que aquecia o casamento
O casal, que em afetos mergulhava qual em águas
Afogou-se na mesmice, morrendo às margens das mágoas

O amor tão solitário veio se encher de fraquezas
Sem a paixão, afogado, foi nas águas das tristezas
Corações desaquecidos afogar-se-ão na lida
Num mar, que, misterioso, só juntos se sai com vida

No mistério da união há almas e não só corpos
Se há um e o outro esvai-se, faz-se ambos, logo, mortos
Por isso que só um sábio chega ao final de seus anos
Ao lado do mesmo amor, sem valer-se de enganos

Não é fácil alguém moldar o coração de outro ser
Sem impor-lhe posições impostas por seu querer
Mas com engenho e arte, sem a dor que ao outro ganha,
Somente um gênio alçaria uma tamanha façanha!

Por isso é justo esta data requerer esta homenagem!
Não trata de um mero evento, diga-se já de passagem,
Mas algo que requer tino, muito esmero e paciência
Numa época que despreza os anos da experiência

Onde o breve e o vulgar pelo povo é almejado
Envelhecer já é mau, quanto mais com o passado!
Os casais trocam de amores como de mercadoria
Não existe compromisso, mas somente euforia


Mas a vós, isto é louvável, pois ao tempo fê-lo mestre
Tendo colhido amores qual belo fruto silvestre
Aprendendo a paciência, o amor e o desvelo
De uma forma que poucos, nestes tempos pôde vê-lo.

Os anos foram alçados qual montanha escalada
O amor dele encurtando a distancia da amada
O machismo, tão louvado por culturas do passado
Pelo amante querido, sabiamente ignorado

A sábia escolha de ama-lo com modo brando, mas ágil
Deu a ela o poderio, embora sexo frágil
A ênfase deu-se às almas, que parceiras nesta lida
Misturadas uma a outra, formou-se uma só vida

No mar da vida, unidos, evitaram o vil confronto
 Quando se entra na água não basta entrar e pronto!
Tem que se ter a destreza para a hora inesperada
Senão as águas sucumbem a alma desesperada


É bela lição, deveras, vê-los aqui lado a lado
Tanta historia percorrida, tanto tempo explorado!
Nadando no amor ardente, com grande sabedoria
Vinte e cinco anos juntos, na tristeza e na alegria!

Eis o exemplo real do passado no presente
Quanto mais os anos passam, mas ele melhora a gente
Findar tal experiência no começo da jornada
É perder a melhor parte onde a vida é sublimada!

Parabéns, pois, ao casal   que dedicaram suas vidas
A escrever nova historia em páginas mal escritas
Cujo exemplo se espera que os de vida conjugal
Persiga qual joia rara, buscando o mesmo ideal


Leila Castanha
04/2013

quarta-feira, 22 de maio de 2013

MACEIÓ, CIDADE SORRISO

Praia do Francês - Maceió

Qual morena faceira és, a todos encantas
De corpo bronzeado por radiante sol
Deslumbrando a quem vê em ti belezas tantas
Fascina-os, Maceió, em teu lindo arrebol.

Terra de lindas prais em brancas areias
De prateado mar ao sair o luar
Ponta Verde, Jatiúca, Pajuçara e Sereia,
Avenida da Paz, que nos faz desvairar!

Por certo que a ti quis ornar o Senhor
Com vergéis, com lagoas, rios e canais,
Ar puro, clima bom e povo acolhedor
Paraíso das águas... riquezas naturais!

Quem olha a linda praia da Avenida da Paz
Belo cartão postal margeando a Avenida!
E teu porto imponente, com navios no cais
Ao lado Jaraguá com história infinda...

E o teu majestoso Estádio Rei Pelé
Linda rodoviária tens, teu desempenho
És morada do sol, d'agua do Catolé
OH! CIDADE SORRISO, saudar-te em versos venho!

MAÇAYÓ- de um engenho foi teu nome na infância
De vila progredistes de modo colossal;
Qual garota saudável, cresceste com pujança
Meu Maceió galante... de Alagoas capital!

Com certeza és amada por todos visitantes
Todos que te conhecem ficam apaixonados
Pois tens louras, morenas, muitas elegantes
Gente muito acessível, deixando-os pasmados!

Quem pode esquecer das belas catedrais,
Farol do Jacintinho sempre a iluminar,
Gogó da Ema, um mito, teus lindos coqueirais
E o sete coqueiros, plantados à beira mar.

Conservas tradições folclóricas da gente:
O fandango, a baiana, a chegança, o pastoril
O guerreiro, a quadrilha,  caboclinho, o repente,
Carnaval, foliões, festejos do Brasil.

Tens coração voltado também para os céus!
Teu povo traz no peito a índole de cristão
Confessando sua fé, devotados a Deus
De religiões várias, tens a Deus devoção.

Que maravilha temos, o Zumbi dos Palmares
De arquitetura tal moderna e colossal
Que aos turistas encanta, com os seus lindos detalhes
O belo aeroporto, de nossa capital!

Fascinante cidade de prédios e mansões
Completas data nova, terra de gente audaz!
Tens mais que um centenário, que em nossos corações
Habitas Maceió... Terra dos Marechais!


Autoria: Laerço dos Santos
Obs.: Esta poesia consta no livro do autor "Poesias do coração"



MACEIÓ, TERRA DO MEU AMOR!

Maceió-AL

Sou nascida nesta terra onde há encantos mil
Cujas águas lhe concede o respeito do Brasil
Rodeada por seus mares que convida os estrangeiros
Ela  é, sem qualquer dúvida, orgulho dos brasileiros

Eu nasci em Maceió, a Terra dos Marechais
Onde há praias formosas dentre muitas coisas mais
Cuja beleza eu ouvia tantas vezes ser narrada
Porque nasci em seu chão, mas em outro fui criada

Mas inda assim tenho orgulho da beleza altaneira
Que fascina o estrangeiro e a gente brasileira
Cujos coqueiros  famosos sombreando à beira mar
 Convidam  todos praianos  o seu corpo à  bronzear

Há um povo acolhedor, que preserva as tradições
Ainda que os tais  precisem ir para outras nações
Levam consigo o brasão, como bons republicanos,
“De nascença, brasileiros, e de honra  alagoanos”

Não creio que há no mundo um povo mais orgulhoso
De nascer em um lugar com um sol maravilhoso
Rodeado pelos mares, pelos rios  e as lagoas,
Abençoado é, de fato, quem nasceu nas Alagoas

Terra boa, invejada pelas praias deslumbrantes
Das águas o Paraíso, do poeta ricas fontes!
Só a vi até os quatro e nunca mais pude vê-la
Mas meu pai, que Deus o tenha, não me deixou esquecê-la.

Pois o orgulho que sinto da Terra dos Coqueirais
Devo as histórias narradas pela boca de meu pai
Por isso todo o apreço que revelei nesta hora
Expressados nestes versos, dedico à sua memória

Pois viveu a sua vida dedicada a te amar
Ó Alagoas querida, quanto louvou o teu mar!
Suas praias e areias por ele tão versejadas
Foram com sua pessoa igualmente  sepultadas

Não digo, foram esquecidas com o seu sepultamento
Pois ele nunca apagado foi de nosso pensamento
Mas tua graça Alagoas, e capital Maceió,
São com seu nome unidos tal qual uma coisa só

Porque embora o meu pai foi ver o nosso Senhor
Pois em seus braços robustos a morte já o levou
Viveu a vida em saudade de sua terrinha boa
E não partiu sem o abraço de sua bela Alagoas

Pois em vida só falava em para ti retornar
Não partiu sem o regaço das areias de teu mar
A distancia de teus braços lhe feria o coração
Na morte, feliz partiu,  guardado sob o teu chão

Guarde com graça o seu corpo como cuidas do oceano
Pois além de brasileiro é um filho alagoano
Como prova desta honra que nossa aliança encerra
Teu filho jaz em teu seio,  plantado em tua terra.

E por isso eu dedico meu coração a teus mares
Pois nesta vida em ti, foi firmado os meus pilares
Pois nascendo em ti teu filho, sendo meu progenitor,
És terra dele, Alagoas, és terra do meu amor!

(Em ti jaz alguém a quem muito amei, MEU PAI, Laerço dos Santos, 67 anos, cidadão brasileiro, filho de Maceió, Alagoas.)


Autoria: Leila Castanha
02/2013

OLHAR DE CRIANÇA






Olhos folgazes procurando novidade

Jamais se cansam no fulgor de sua idade

Se um besouro, pedra, planta ou capoeira

Tudo pra ela se transforma em brincadeira


Na meninice a vida é vista com beleza

Basta um passeio e se dispersa a tristeza

Tudo é motivo de sorriso e alegria

E o real sempre se muda em fantasia


Com a labuta dos adultos vai brincar

E a menina, a boneca vai mimar

Zomba da vida laboriosa em seu afã

Ignorando as verdades do amanhã


É um prazer inenarrável ser criança!

A fase mais esplendorosa da esperança!

A  dura lida em seus olhos esplende graça

Canta ingênuo,  surdo ao grito da desgraça


Se triste chora o ferimento a lhe doer

Um simples doce faz curar todo o sofrer

Uma história com carinho ao ser contada

Faz o desgosto de um dia virar nada


Mas o que  é bom logo se acaba, já foi dito

E a idade finda o tempo mais bendito

O olhar claro da criança tão faceira

Com certeza,  o amanhã trará cegueira


Assim, os olhos que enxergavam só beleza

Serão luzeiros a ofuscar toda a clareza

Pois se mais perto do luzir da luz está

Bem mais difícil ficará para enxergar


A luz penumbra da infância é uma benção!

Porque menor lhe sendo a vista, menos pensa

Mas o adulto tão exposto à luz da vida

Olhos  cansados, embaçados são da lida


O duro peso do dever lhe tira a graça

E a alegria vai-se quando a infância passa

Pois os olhinhos acostumados a brincar

Treinados são agora para o labutar


E a boneca, bola, e outras diversões

Trocadas foram pelas mil preocupações

A vida dantes vigiada pelos pais

São tempos idos que não voltam nunca mais


Assim, o brilho do olhar de puros seres

Torna-se guia que os leva aos afazeres

No olhar adulto a luz lhes mostra a ignorância

De ter um dia se apoiado na esperança


Leila Castanha

02/2013















terça-feira, 21 de maio de 2013

NOVO ALVORECER!



Sentindo-me as vezes abatido
Cabelos, prenunciam envelhecido
Forças falhando vão, no labutar
Vejo o ocaso da vida a me chegar!

Na face tão macia, rugas vendo
Olhos, boa visão pra ver não tendo
Vigor dos músculos se fragilizar,
É o ocaso que está a me avisar!

Mesmo assim, eu sinto em minha alma
Alguém no íntimo a dizer: Tem calma
Teu horizonte resplende a luz do sol
Estou contigo nesse seu novo arrebol!

Não haja em ti o lamentar na caminhada
Qual águia sejas, na velhice é renovada;
Nova força e visão boa, e terás luz...
Na Alvorada esplendorosa com Jesus!

Autor: Laerço dos Santos

obs: Esta poesia  foi declamada no velório do autor, por um amigo, e consta em seu livro "Poesias do coração".

A VELHICE


A idade é uma coisa que não dá pra segurar
É a janela do tempo que não se pode fechar
Pode ser rico ou pobre,  ser sábio ou ser demente
O tempo passa depressa pra todo tipo de gente

Por certo muitas pessoas perderam a euforia
E ao chegar a idade desenvolveram fobia
Com medo de envelhecer e a pele desgastar-se
Muitos deles, inclusive, pensaram suicidar-se.

Esse caminho é traçado para toda a humanidade
E muitos têm a velhice como uma grande maldade
Cujo tempo traiçoeiro em silêncio e com brandura
Sentencia em suas rugas o terror da sepultura

Alguns veem a idade até mesmo como bênção
 No entanto, te garanto, que muitos assim não pensam
A alma dói ao lembrar-se de seu rosto a perfeição
Sendo  coberto agora por marcas de expressão

Se franze a boca a ruga nos seus lábios se aninha
Se sorri, Deus nos acuda, lá vem os pés de galinha!
A pele flácida e marcada toma o lugar da beleza
E encarar a idade torna-se grande tristeza

Deixar os cabelos brancos qual noutros tempos se via
Deus me livre, dirão muitos, cruz credo, Ave Maria!
Infelizmente, a cultura cujas cãs eram louvadas
Foi com os velhos antigos  igualmente enterradas

Hoje a velhice se torna numa arma de suplicio
E muitos, acabrunhados, vão a beira do hospício
Além da própria aparência que nada tem de esplendores
O velho ainda se enche de enfado e de dores

Pois a verdade é sombria e a Bíblia já nos disse:
Canseira e enfado aguardam o limiar da velhice;
Mas o segredo da vida é viver com intensidade
Pra  reler em cada ruga, registros da mocidade

Penso, portanto, mais sábio que chorar a aparência
É manter a juventude priorizando a essência
 Porque se aos olhos apraz  ver na beleza o centro
Requer a alma a beleza de se ser jovem por dentro

Ter saúde, bom humor e alegria verdadeira,
Torna a beleza aparente numa terrível besteira
Não se precisa, portanto, com a velhice se assombrar
Pois ela há de levar-nos a um ditoso lugar

Pois cada tempo reserva a sua própria história
Vivamos, pois, o momento do tempo chamado “agora”
Gozar hoje o que  a vida para nós tem reservado
E no futuro teremos dos dias o mais dourados

Pois o que o tempo nos deixa no passar dessa vivência
É a visão ampliada na lupa da experiência
A idade é semelhante uma lente de dois lados
O jovem vê mais de perto, o velho mais ampliado

O belo nunca se acaba, tão somente se transforma,
E  a velhice  é a vida olhada de outra forma
Na verdade, se  quisermos vivenciar a grandeza
Confiemos à velhice no rumo da natureza

Viver é mais que existir de forma cronometrada
É deixar em sua vida belas marcas registradas.
É sentar no banco frio do seu  vigor acabado
Aquecido nas lembranças dos bons anos do passado.

Leila Castanha
28-06-2011



LIBERDADE


 


Liberdade é poder fazer as próprias escolhas

Algemas prendem meus pulsos frágeis...
IDEALISTA, ROMÂNTICA, SONHADORA.
Massas esmagadoras, contraditórias,
Que nem mesmo sabem no que acreditam,
Tiram-me o direito de revelar minha face.

Direito...
Apenas direito de ser eu mesma,
... Não apenas num instante,
Contrariando os perfis impecáveis, a mim imposta,
Acreditando e revelando meus genuínos pensamentos.

Meu avesso, revela intocável,
Sem o toque dos manipuladores.
Esquadrinho meus pensamentos,
Descubro pureza na alma,
Sou eu mesma, sem as manobras dos seres.

Idealizo... Sublime concretizo,
O real valor do genuíno.
Sem os aplausos das massas,
Conformismos dos fracos,
Seguirei meu caminho, resoluto,
Sou um ser pensante, nada me detém.

Sonho... Idealizo um mundo melhor,
Que não sufoque os anseios, a essência.
Amo com a mesma força que vivo,
Discriminada sou, por não ser como a maioria,
Sou autêntica, inconformada com a mediocridade,
Quero minha liberdade, preciso da minha alforria.

Liliane  Castanha

05/2013

domingo, 19 de maio de 2013

NO DELÍRIO DO SONHO



Imagem extraída de http://componentes.cpbedu.me


Soprando em minha face bem cedinho
Gélido vento suave me refrescava
Sombrio coqueiral, dava-me carinho
Sentindo-me confortado eu sonhava!

Que beleza! Em meu sonho eu delirava,
Em meu rosto banhava os raios do luar
E naquele bom delírio continuei a sonhar
Em sonho me vi com alguém que amava!

Rápido meu coração teve um sentimento
O aroma da dama exalou todo o lugar,
Feliz ali estava sonhando muito ao vento
Imagine a tristeza que senti ao acordar!

Laerço dos Santos

obs: Esta poesia e muitas outras estão no livro do autor "Poesia do coraçao".

sábado, 18 de maio de 2013

ESSÊNCIA


Noites escuras, gélidas
Busca da minha essência
Memórias embaralhadas, confusas
Vivencio adquiridas experiências

Resoluto na minha decisão,
Encaro o meu eu inverso
Verso este que penso conhecer
O inverso tão desconhecido

Qual fumaça a se esvair
indecifrável a se descobrir
Caminhos desconhecidos a percorrer,
Compreensão do ser, labirinto a surgir

Quem sou eu, afinal?
Meu ser clama...
Sou gente, sou garra, sou herói?!
Grito rasga as minhas entranhas
És ser humano, humano e nada mais.


Liliane Castanha
04/2013


quinta-feira, 16 de maio de 2013

O VALOR DO TALENTO


 

O grande problema da humanidade, é que aprendemos a acreditar no que podemos ver, e talento não é algo que se veja nem com a ajuda de microscópio. Talento, assim como sentimento, é algo que se percebe, todavia, precisa-se de atenção para detectá-lo. Assim como há pessoas que conseguem demonstrar seus sentimentos com mais facilidade do que outros, o mesmo acontece em relação aos talentos: Há muitos escondidos!

O que seria dos jogadores de futebol, se não houvesse aqueles que usam seus talentos para divulgá-los? Ou o que seria da intensidade do brilho de seus dribles no campo, se não fosse a habilidade do narrador, que mesmo sem a possibilidade dos torcedores visualizarem o jogo, faz com que vibrem como se vissem cada pedalada e cada drible, e sentissem a tensão dos jogadores ao perceberem a possibilidade da bola desviar-se da rede?

O que seria do escritor sem aquele Zé Ninguém que foi o foco de sua inspiração, pela modéstia de sua vida pacata, tão inspiradora na formação de seu texto, o qual nele foi inspirado para discorrer sobre a sua percepção sobre a profundidade  que observou na singeleza de uma vida? Ou sem a atenção do talento do leitor, cuja habilidade de interpretar seus textos faz com que sua escrita ganhe vida?

O que seria do leitor, sem a habilidade do escritor, cujas palavras tão bem tecidas, são capazes de formar uma rede amarrada pela coesão e entrelaçada pela coerência, que o possibilita a deleitar-se em sua obra, desfrutando do prazer do letramento?

O que seria dos astros e estrelas sem as pacatas donas de casa e o singelo varredor de rua que lhes garantem o brilho na telinha, pelo simples, mas importantíssimo ato de serem meramente espectadores?

O que seria do tímido sem o talento do extrovertido, cujo poder é capaz de, em segundos, fazê-lo sentir-se a vontade no meio de estranhos? O que seria do extrovertido, sem a paciência do ouvinte pacato que o deixa falar e falar?

O que seria do aluno aplicado sem a devoção do professor, que mescla sua habilidade de transmitir seus conhecimentos ao dom da paciência, para não desistir de seu entusiasmo diante da má vontade dos quase noventa por cento dos pseudoalunos?

O que seria do superior sem o subalterno e deste sem aquele, se a vida é feita de reciprocidade, onde sempre será necessário o talento de quem nasceu para mandar (e não pense que não é talento), e a obediência daquele que se sente feliz em servir?

O que seria do egocêntrico Eu se não fosse o talentoso Tu à fazê-lo sentir-se a última bolacha do pacote?  Afinal, ninguém pode ser alguém sem o consentimento do outro. Você consegue imaginar jogadores,  cantores e atores famosos sem a presença invisível de seus fãs? É óbvio que não, pois estes são as sombras que fazem a figura daqueles criarem forma na mídia.

O que seria de mim se não houvesse pessoas como você, cuja autenticidade, de sujeito inquiridor, ao buscar respostas ou apenas pelo simples prazer da leitura, aventura-se a ler os meus textos,  tornando meu tempo gratificante ao escrevê-los?

 São pessoas como você, independente de suas profissões, grau de escolaridade, religião ou classe social, que fazem pessoas como eu perceber que vale a pena fazer parte de um círculo onde há pessoas talentosas, que sabem identificar e valorizar o talento alheio.

O que seria de mim sem a mescla de visão de mundo de cada um, cuja leitura  traz significados diversos aos meus textos?

 O que seria de nós, um sem o outro, se ao cumprir o meu dever ao dar o ponto de partida dando forma à imaginação dos leitores através do poder das letras, faltasse a sua mente condutora, interpretando meus textos por sua via particular , dando a cada um deles  novos sentidos, onde eu sozinha jamais poderia vislumbra-los?

Obrigada, caro amigo leitor,  por partilhar comigo seu mundo intelectual, social, religioso, sentimental e político ao ampliar cada linha escrita pela sua experiência de vida, trazendo novos horizontes aos meus escritos, por meio de seu talento único de leitor e intérprete de meus textos.

Leila Castanha
13/05/2013

 

VIDA DE CÃO



   Outro dia passei pela rua e deparei-me com uma cena revoltante. Vi um farrapo humano.  Tão sujo e maltratado, como se não bastasse ser um farrapo. Tinha a calçada por cama e a rua por casa. Em sua companhia uma trouxa, que creio ser dos despojos que lhe sobrou do tempo em que ainda era gente, e um amigo inseparável, um cão vira-lata. Para onde fosse carregava os dois: a trouxa e o cão.  A trouxa era presa aos ombros como se fosse uma mochila e o cachorro sobre ela. Ela o acomodava tão bem sobre a trouxa de pano que parecia ter sido feita para o transporte do animal, o qual se deitava espiando o transito, na segurança do cuidado de sua dona. Na verdade, não sei ao certo quem era dono de quem.
   O cão lhe ia às costas, com a regalia de um senhor, mas era ela quem o conduzia. Acho, por fim, agora que meditei no assunto, que não havia dono nem senhor, apenas cúmplices. Dois amigos, companheiros na estrada da miséria, levando a dura vida de sem tetos, sem dinheiro, sem respeito e sem oportunidade de vencer na vida. Uma mendiga negra e um vira-lata de pelos castanhos: o retrato perfeito da discriminação e do descaso pela vida. 
   
   Ela parecia amá-lo com intensidade. Não tirava os olhos cuidadosos de sobre o cão que da mesma forma parecia cuidar da amiga: Não se alongava dela, antes, a seguia submissa e fielmente. Lembrou-me a figura materna, tal o zelo que demonstrava para com o mascote. Ele, leal e obediente como bom filho, não lhe saía da barra da saia. Saia esta que ficava sobre uma calça igualmente preta pelo acumulo da sujeira e de aparência rota.
    
   A mulher tirava algum alimento do sujo pano que lhe servia de mochila e repartia com o amigo. Andavam pela calçada, quase que em círculos, da mesma forma que girava suas vidas. Eu já os vejo no mesmo estado de miséria há dois anos consecutivos. Nas idas e vindas que faço de casa à faculdade e vice versa, lá estão eles. Não importa o tempo, se frio ou calor, aquelas duas figuras, que mais parecem sombras do que reais, continuam rodopiando qual pião na corda bamba de suas vidas, que parecem despidas de alma. Como pode alguém ter sentimentos e subsistir a tanta humilhação e desprezo?

   Louca. É o que alguns comentam no ônibus. Outros riem e maneiam a cabeça ao vê-la carregando o cão como se fosse uma criança. Ela, indiferente às zombarias e maneios de cabeça, segue o seu caminho que nunca a leva a lugar algum, ora pedindo uns trocados aos motoristas que esperam o sinal abrir, ora arrumando suas trouxas. O cão, nem se incomoda com a figura suja e desprezível da companheira. Lá está ele, sempre atento e cavalheiro. Tenta ajuda-la a pegar alguma bugiganga sempre que lhe escapa as mãos. É um doce de cão! Um amor de animal! Se não fosse vira-lata certamente acharia um dono mais afortunado.
   Não é um animal feio, apenas ofuscado pela excessiva pobreza a qual o destino o expôs. Dócil, sempre com cara de feliz, embora pareça ter um semblante de preocupação. Sempre que o vejo penso que se tivesse a sorte de pertencer a uma criança, saberia rolar, pular e correr faceiro atrás da pequena, lhe arrancando gritinhos de satisfação. Quanto a exposição à sujeira, bastava levá-lo a um pet shop que sairia de lá aos lustres. Doença não devia ter, pois que era muito disposto, mas se houvesse algo errado, poderia resolver com alguns medicamentos. Um mês, dois no máximo, num novo lar recheado de carinho e amor, para esquecer a vida dura e miserável a qual enfrentara com a pobre mulher de rua.
   Ela, não. O caso seria muito mais grave. Não é apenas um animal nem somente um ser. É humana.  Precisava, portanto, de vida social para viver e não há de esquecer-se facilmente que lhe entregaram a solidão do descaso. Precisava se ver como ser político, participando das questões relevantes de sua pátria, estado, cidade e bairro, mas  negarem-lhe seus direitos, e, portanto,  lembrar-se-á das vezes que largada às duras penas, mendigava um pedacinho de chão para dormir e velava para não ser enxotada pelos comerciantes que não queriam ver seus estabelecimentos manchados com sua figura tão imunda e desprezível. Como ser humana, necessitava entender-se como sujeito, alguém cuja identidade cultural e étnica deveria ser respeitada, mas não será fácil desfazer-se da sensação guardada na memória, das humilhações diárias e de sua transparência diante dos transeuntes. E embora um dia consiga desvencilhar-se de suas amarguras do passado, continuará marcada pela cor da pele e seu status social: é negra, pobre, e muito provavelmente sem uma educação escolar adequada, logo, se faz vitima de todo tipo de preconceito: racial, social e cultural. Infelizmente, ninguém a vê como ser humano há meses, anos ou décadas, mas a verdade é que  aquela Maria Ninguém que tem o céu por teto e jornal por coberta, carrega consigo uma bagagem social e cultural. E isso não é observado pelos que julgam a aparência sem dar-se ao trabalho de avaliar a essência dos seres, ditos humanos. Por isso, afirmo que é mais fácil ater-se a recuperação do cão do que de sua amiga humana. Ele age por instintos, ela por sentimentos. Ele é irracional, ela, infelizmente, não pode evitar pensar nem apagar as marcas da memória.

   Se a um cão vira-lata, acostumado à ignorância humana, é difícil convencê-lo de que nem todas as pessoas o enxotarão a pedradas, como uma pessoa que passou anos apanhando da vida, poderá, da noite para o dia, acreditar na sociedade que a desprezou e para quem se tornou motivo de chacota? Como um ser racional poderá crer que a mesma vida que a puniu lhe dará chance de dar a volta por cima?
   São pessoas condenadas pela omissão dos nossos políticos, que só tem olhos para o enriquecimento e ficam cegos ao clamor daqueles a quem deviam defender. Minha tristeza é saber que se esta pobre mulher não se forçar a pensar para encontrar salvação para sua miséria, jamais conseguirá achar uma saída, todavia, se pensar e refletir sobre sua situação real, poderá visualizar somente portas fechadas e se perder no beco escuro da loucura. Se é que já não vaga nele...

   Mas, quem sabe, essa seja a saída para pessoas como ela: Os loucos não pensam, e se um cão é irracional pela sua incapacidade de raciocinar, será que sua afinidade a esse animal, não é porque  também já perdeu o poder de julgar o real do irreal e o humano de um cão vira-lata?

   Passe por onde ambos ficam: o cão e a mulher. Então, tente descrever qual é a diferença. Sinceramente, eu não consegui.


Leila Castanha

16/05/2013