quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

PLANETA SECO: VIDAS SECAS


O grande problema de nós, brasileiros, é que somos acostumados a gastar na fartura sem pensar nas consequências futuras. Gastamos tudo o que temos, e depois fazemos escândalo porque queremos e não aceitamos não ter nossos desejos a disposição.
Assisti a um filme (10.000 a.C.), no qual o velho sábio contava a sua tribo a seguinte história: Havia um homem que viva triste porque sonhava em possuir muito e nada tinha. Certo dia, uma águia lhe perguntou o que queria e o homem lhe respondeu que queria uma visão ampliada ao que a ave lhe concedeu.
Depois, a onça lhe fez a mesma pergunta e o homem respondeu que seu desejo era ser forte. O animal lhe deu a sua força. Um a um, os animais da floresta concederam-lhe os desejos, doando-lhe o que de melhor possuíam, segundo a vontade do homem.
 Por fim, um dia o homem voltou à natureza para pedir-lhe mais coisas. No entanto, deparou-se com o Mundo que lhe disse:
- Sinto muito, amigo, mas você já tirou tudo de bom que eu poderia te conceder, agora não mais existo, logo, não posso te dar mais nada.
Essa história me fez refletir sobre a nossa situação em relação à falta de água.  Gastamos de uma vez o que deveria ser gasto em anos, e, depois, queremos exigir da natureza que nos dê o que precisamos.
A floresta Amazônica é um dos tristes exemplos da ação devastadora do homem. Na ganância de possuir, suas árvores foram inescrupulosamente derrubadas e suas matas queimadas, de forma que parte dessa enorme área verde deixou de existir.
Nossos rios foram sendo poluídos, e hoje todos os olhares estão voltados na escassez de água que estamos vivendo. A mídia concentra sua atenção em medidas para recuperar a perda desse bem comum que é o símbolo da vida. Ninguém pode viver sem água, no entanto isso tem sido esquecido pelos governantes que só pensam em encher seus bolsos do cofre público, mas não se lembram de que colheremos amanhã aquilo que plantamos hoje.
No tempo presente choramos a falta de água, mas num futuro não muito distante, será a energia que nos faltará. A energia física, por não possuirmos mais a fonte da vida (pois sem água ninguém vive), e a energia elétrica (que é gerada por esse líquido sagrado).
Talvez você pense que ficar alguns dias sem banho ou com a casa suja não mate ninguém. Muito bem! Agora reflita: Você sujo, sem ter muito que fazer, pois grande parte de nossas tarefas diárias exigem a utilização de água, em recesso da escola (sem água as instituições param), racionando a ida ao trabalho, e... sem Tv, sem internet, sem telefone (o sagrado celular descarregado por falta de energia), tendo de ir para a cama por conta da ausência de opção e de luz elétrica.
Paremos com essa atitude de chorar o leite derramado e passemos a vigiar o ‘leite’ para, pelo menos, não desperdiça-lo mais por falta de nossos cuidados.
Coletar água da chuva, utilizar as águas desperdiçadas das máquinas de roupa para lavar o quintal ou a calçada, ao invés de utilizar mangueiras, que, segundo pesquisas, desperdiçam enorme quantidade de água, são pequenas atitudes que podem cooperar na diminuição desse desperdício.
Chega de nos equiparar ao vizinho retardado que não consegue ver um palmo a frente do próprio nariz, e sejamos o vizinho correto que inspirará os demais a tomar sábias atitudes.
Sei que o povo não pode ser o único culpado pela escassez de água, mas todos nós, nas devidas proporções temos nossas culpas.  Provavelmente, não poderemos salvar o mundo, mas o mundo só é mundo por causa da somatória de pessoas que o compõe.
Assim, cada um fazendo um pouquinho conforme suas possibilidades poderá tirar nosso planeta dessa crise seca, e ele retribuirá devolvendo-nos o líquido sagrado, fonte de nossas vidas.

Por Leila Castanha

2014

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

SOU O QUE LEIO


Quero eu crescer no intelecto, na cultura
Ver o mundo em volta, possuir a estrutura
Para com engenho em palavras desenhá-lo.
Qual janela mágica o saber a mim, abrir-se
E o  conhecimento de minh’alma, esvair-se
Com arte este mundo em palavras figurá-lo.

Quero ser completo, qual Camões, em eminência;
Galgar desses poetas, qual Drummond, a excelência,
De Manoel  Bandeira,  copiar a trajetória.
Ser simples, mas fecundo ao formar os versos meus,
Exato na linguagem:  Casimiro de Abreu.
Com arte e engenho  alçar voo rumo a glória.

Ser ávido nas letras, e veloz no entendimento;
Fazer-me experiente e possuir discernimento;
Valer-me das palavras que nos livros cultivei.
Notar as entrelinhas qual leitor proficiente;
Alimentar a alma e cultivar a minha mente,
Ser bela qual poema, em cujos versos me estribei.

Leila Castanha
2014







sábado, 29 de novembro de 2014

VIDA: VIA EXPRESSA PARA A MORTE

http://www.motoliberdade.com.br

O coração vazio pela partida premeditada. Não sei quando, mas sei que um dia partirei desta existência para não sei aonde. Minha fé vacila como as ondas do mar, que ora se fazem brincalhonas e voltam à serenidade, e ora arrasa tudo a sua frente, tudo que dantes era real para mim, se desfaz carregado pela fúria da descrença.                                                                         
Vou, em dia e hora que não sei, e essa partida talvez não me seja de boa vontade. Isso me enerva e faz-me ver a vida nebulosa. Um futuro incerto e um destino sombrio rondam meu porvir.
Vejo gente que foi e nada mais é do que lembranças, que se desfazem qual fumaça quando o ardor do fogo se esfria pelo tempo. Pessoas que, mesmo quando nos tiravam a paciência, estavam dessa forma fazendo-se presentes em nossa existência. E agora são sombras, que mal conseguimos vislumbrar.
Não sei como é possível viver a vida quando ela é cercada pela sombra da morte iminente, que vem apresentar-se a nós na imagem de diversos rostos conhecidos.  Na face de um ente querido, um amigo insubstituível, um artista amado, um amor antigo, um alguém que marcou a nossa vida, e vem dia após dia, nos fazer lembrar que o fim de todos os viventes é uma cova fria e solitária.
Quanto mais se vive, mais de perto a morte se nos faz conhecida: No silêncio sepulcral em que se tornou a voz do pai que nos fazia rir e conosco gargalhava; na canção em que a mãe  cantava à beira de nossa cama, cuja voz tornou-se muda; na quietude da  casa que o marido tumultuava com seus trejeitos faceiros;  na ausência do artista, cujo personagem nunca mais abrilhantou as cenas; nos coveres que imitam o ídolo, cuja fisionomia já é quase apagada da memória dos fãs.  
Até que um dia nos cansamos de perder, e o tempo cansa de tentar nos convencer a aceitar a vida como ela é, e a vida cansa de suportar nossas lamúrias, e o mundo cansa de tentar se ajustar às nossa mudança, e por fim, nos unimos à morte, sem sequer podermos dizer aos que ficam para onde vamos, e quem será nosso vizinho no além-túmulo.
A vida é um labirinto. Não importa  qual caminho escolhemos, o fim é sempre a cova escura e silenciosa. Se vivemos bem, morremos, e se vivermos mal, teremos o mesmo fim.
Estudamos, trabalhamos, amamos, adoecemos, sofremos acidentes e incidentes, rejubilamo-nos, festejamos, conquistamos, e por fim... Morremos.
Tudo o que fazemos em vida, é, portanto, uma preparação para morrermos: com dignidade, ou como praga que todos desejam ver exterminada. A vida é só um estágio, mas a morte é o game over.  Pelo menos na esfera terrena, para os que, como eu, têm a esperança de uma vida póstuma.
A vida, seja ela curta ou longa, resume-se em uma palavra: Morrer.  A verdade é que a vida é sintetizada em uma caminhada, longa para uns, e curta para outros, cujo fim é nos levar ao nosso começo: Voltarmos a ser pó.
Vivemos como alguém que sai de casa todos os dias, sem ter a menor ideia se voltará  em segurança.  A morte é covarde como o ladrão que leva o salário de um mês inteiro do pobre trabalhador. Lutamos, lutamos, nos programamos, investimos na vida, mas sabemos que a qualquer momento ela nos assaltará.
Essa realidade é tão triste, que todos achamos que só acontece com o vizinho. Eu já não penso mais assim, pois ela já bateu à porta da minha casa e levou um ente querido. Sei que é uma lei universal, e sua guardiã não é corrupta. Para a Morte não há acepção de pessoas, ela só respeita a vez de cada um, na grande fila da vida.
Aos que se foram minhas saudades, e aos que ainda irão minha admoestação:
Viva com os dois pés no mundo e a cabeça na cova.  A morte é real, queira você ou não. Então faça bonito, para que sua lembrança cause prazer e não dor, àqueles a quem sua memória assaltará.

Leila Castanha

2014

domingo, 21 de setembro de 2014

Diga-me


bela primavera enfeita a minha vida
Ações recompensadas da busca  com ardor
Não valem a beleza das flores que eu ganho
Mas tudo fica belo, se dizes: Eu te amo!

Os Pássaros cantando em sinfonias belas
O sol irradiando me envolve  em  seu calor
Mas só  tua lembrança me basta e me inflamo
Pois arde em mim o peito, se dizes:  Eu te amo!

O outono decidido  renova em mim a vida
O vento faxineiro, me limpa toda a dor
Mas não gozo saúde,  sem ti,  tristeza ganho
Porém, logo me curo  se dizes :  Eu te amo!

O inverno chega frio e o coração congela
O medo me consome por nada me aquentar
Porém, quando me tocas, qual chama me  inflamo
E cresce em mim o fogo, se dizes:  Eu te amo!

Leila Castanha

09/2014

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

MINHA FADA


Semblante tão calmo de águas serenas na flora selvagem
Regato em que muitos a sede de afeto vem dessedentar
Olhar cintilante, qual brilho de estrelas denota esperança
Aponta em seus gestos a luz entre a noite e o dia a raiar

Pensante pessoa, se vê refletindo no dito futuro
Trabalha as palavras qual pepitas raras de muito valor
Qual bálsamo santo são os seus dizeres à alma em apuros
Qual sino estrondoso seu advertir ao querido infrator

Braços solidários que a muitos, ao peito, refez-lhe a calma
Rosto de candura, olhares atentos de mestre/ aprendiz
Recolhe lições preciosas da vida e gradua-se em anos
Pepitas de ouro em salvas de prata as palavras que diz

Seu nome ecoa no mundo inteiro em formas diversas
Num urro, guinchado, gemido, sussurro ou num fraco piar
Sorriso maroto ao ver saltitante o objeto de amores
Semblante pesado ao sentir o perigo dele se acercar

Quem nunca viveu em um reino de amores, num mundo de fadas
Onde um gemido ou um fraco sussurro suscita o querer?
Num mundo de  gozo aonde  o amor reina em absoluto,
Num reino efêmero, qual vento veloz faz o tempo a correr

Quem nunca na vida foi tão pequenino e  bem amparado
Por uma fadinha, num reino encantado, chamado de lar?
Com bastão de ferro, tornava em sapo a figura rebelde,
Com bastão de ouro, num príncipe lindo pra o recompensar

Oh voz que sublime qual carga energética levanta a coragem!
Oh beijo encantado, qual fonte os seus lábios derramam vigor!
Oh pés tão ditosos, que correm em missão de trazer alegria
E braços, que fortes, ampara a fraqueza num aperto de amor.

Não sinto o tempo que perdi nos anos, após a infância
Nem maldigo a sorte que da minha fada há de me separar
Lamento àquele que em sua vivência num mundo inseguro
Não teve a sorte de ter como esteio a rainha do lar!

Leila Castanha
09/2014

terça-feira, 2 de setembro de 2014

ARQUITETOS DO SABER


Imagem extraída de Pinterest


Casas de alvenaria sem retoque de pintura
Tijolos bem à vista poluindo a beleza
Janelas de ferrugem corroídas pela vida
Com vidros a faltar, e expondo-lhe a pobreza

Por dentro a desordem de um lar sem estrutura
As vidas acabadas como móveis desgastados
Faltando o ornamento de um lar em equilíbrio
Restando nela vidas, resquícios desprezados

São essas sobras feias, esculpidas na miséria
Que chegam na cultura escolar, sem aparência
São casas acabadas pela falta de cuidados
Tão cheias de desgastes,  cobrindo-lhe a essência

Em meio a beleza da cultura escolástica
Se encurvam , pobres casas, tão abaixo do ideal!
Se abri-las, velhos móveis, deformam a parte interna
Que foram mobiliadas pelo exemplo do real

Mas, vindo um arquiteto lhes sonda as estruturas
Recuperando nela  o bem que lhe restou
Os móveis velhos trocam, a pintura lhe restaura
Ao dar-lhe nova forma, nova casa se formou

A nós, dignos mestres, é o chamado do arquiteto
Sondar as velhas casas que nos chegam a ruir
Designers desta vida, inspiremos  as mobílias
E casas suntuosas, dos casebres vão surgir.







sábado, 30 de agosto de 2014

QUEM AMA NÃO PERDE


Imagem extraída de https://quemdisse.com.br/frase/quem-ama-nao-perde-nunca/103695/


A perda é o maior meio de  ganhar algo na vida
Perdendo a companhia  me abraça a ausência
Na perda da coragem  vem o medo a assobrar-me
Na perda da vergonha, me advém a indecência

Se perco o doce sono me fustiga a má vertigem
E o abrir de boca insano a cabeça vem girar
Se perco um bom momento se aproxima a dura culpa
Se perco a saúde, chega a morte a me rondar

Ao ir-se os belos anos resta a mim a vil velhice
Que tem habilidades em roubar, subtrair
E indo a certeza, logo a dúvida me acerca
Se perco a coragem, vem o medo me afligir

Porém nem tudo é triste quando a perda se apodera
Porquanto certas coisas não se finda no findar
Perdi tua presença quando a morte a mim roubara
Mas tenho as lembranças que ficaram em teu lugar.


Leila Castanha

08/2013

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

LABIRINTO TEXTUAL

Escritas fatiadas, com excesso de recheio
Caindo pelas bordas, emperrando a fruição
Engasgos de palavras, vomitadas, misturadas,
Os  pontos engolidos  e cuspida  a coesão

Um show de incoerência na imagem de seus códigos;
Enigmas difíceis para os olhos decifrar
Tremendos labirintos, que nas folhas se embaralham
Não deixam  a mente livre em seu texto navegar

São ondas de vacilos, incertezas e achismos
Sintomas de um mundo não pensante, que não lê
Um círculo fechado no ostracismo e na preguiça
Que rouba da linguagem a sedução e o prazer

São linhas balançando no suéter tricotado
Mal feita a bela arte aos leitores não apraz
Não há enlaçamento para os fios, desconexos,
Em meio as rupturas seu sentido se desfaz

São crias de pais faltos de suporte ou de bom senso
Crianças desprezadas, que nem sabem o que são.
Copistas, enganadas pelos aios da cultura,
Pseudo-estudantes, numa escola de ilusão

Leila Castanha
08/2015





segunda-feira, 11 de agosto de 2014

E QUEM SOU EU?


Refletindo o meu homem interior
Vasculha a essência da minha'alma
Tento compreender com  muita calma
O ser criado criado, o homem que eu sou.

Analiso a minha existência
Sinto egocêntrico controverso
Me afogo ao pensamento, submerso
Procuro desvendar minha vivência!

De onde vim... e quem sou? Me interrogo.
Consulto livros e histórias,,, fico só,
Assim, sem entender relatos seus.

Busco o Livro dos livros, vejo luz
Que pelo Pai Eterno, vim do pó,
Dando seu sopro: "sou pensante...
Vim de Deus!"

Laerço dos Santos
(retirado do livro Poesias do Coração)

quarta-feira, 30 de julho de 2014

RETRATO

Apenas Yves seria Saint Laurent.
Apenas Coco seria Chanel.
Valentino, de Clemente Ludovico Garavani, não teria o vermelho por cor.
Já não os caberia o trapézio, o rosa, o plissado.

Ícones, apenas ícones...
O que importa é o símbolo que seus nomes carregam.

Que nosso primeiro nome indique o caminho de nossos ícones e que estes sejam compreendidos sem nos anular a essência.



Neide Castanha









quinta-feira, 24 de julho de 2014

Ser Implícito


Não digo o que penso sobre os outros
Nem penso  no que vê minha visão
Pois há uma verdade-irreal
Por trás de cada ser  e cada ação

As pessoas são leitura a serem feitas
O implícito em seus textos  é profundo
Errado é o julgar segundo os olhos
Ao homem, o Mistério deste mundo

Por isso que um ato não se fecha
Apenas nele para um parecer
O erro e negativo numa hora
É o impulso para em outra alguém crescer

O ditado pelas leis comunitárias
Para alguns é mui difícil de aceitar
Mas, são esses que em tempos oportunos
As reformas poderão alavancar

Não é  burro, o que burro  não se acha
E que pela consciência o saber busca
Burro é o que do “burro” toma a honra
Com palavras que seu brilho mais ofusca

O homem é um ser em crescimento
E enganoso é o olhar o seu explícito
É ele uma metáfora infinita
Misterioso Ser, Texto Implícito

Não julgue o que vê a sua vista
Não é tão simples decifrar a alma
O burro, só é burro se assim nasce
E o ser humano empaca se houver trauma.

Leila Castanha
07/2014

sexta-feira, 20 de junho de 2014

MEU AMIGO LIVRO



Companheiro em noites longas quando o sono me largava
Em viagens bem distantes do chão vinha me tirar
Poderoso e altaneiro, suas asas me elevavam
Nada no mundo podia do seu poder me livrar

Já fui longe, temerosa, junto ao pé de Dom Quixote
Com seu amo subalterno, Sancho Pança, lhe servi
Resoluto e altaneiro, com espada sempre pronta
A  milhares de miragens, a seu lado socorri

Com Bentinho, de Machado, vi a trama da tragédia
Seu  amor enlouquecido, em ciúme converter
Capitu, pobre amiga, pude vê-la ir-se embora
Para longe do amado, na Europa falecer.

E seu filho Ezequiel, cuja  sorte a morte entrega
Foi qual morto para o pai, culpado de sua dor
Rejeitado por ciúme, com um nome a condenar-lhe
Nunca soube o que seria o paterno e doce amor

Inda penso na desgraça que Bentinho fez na vida
Apesar de passo a passo sua história eu conhecer
Prometi a Capitu, quando Bento a acusara
Sua honra e honestidade sempre haver de defender

Já estive entre as matas com a bela Iracema
Vi o encontro com o branco a quem muito ela amou
Fugi com ela da tribo onde viveu com seu homem
O bravo Martin, guerreiro, por quem a vida doou

Que sofrimento avistei naquela pobre indiazinha!
Sempre que o Amor precisava para longe dela ir...
Até que um dia horrível com a criança em seu peito
Vi esperar seu amado, e em seus braços sucumbir

Chorei a dor da saudade que aquela índia deixara
Esperei Martin Soares sua amada enterrar
Deixei pegar sua filha e num barco ir-se embora
Só então que em meu mundo me permiti retornar

Porém pior desventura do que sofreu Iracema
Teve a coitada Isaura, escrava, que padeceu
Das escravas despeitadas suportou toda afronta
Do senhor, que não amava, muitos assédios sofreu

E da vida no cortiço pude ver com Aluizio!
João Romão, egoísta, contemplei a prosperar
Explorando os moradores da vila tão mal cheirosa
Bertoleza, coitadinha, só usou pra lhe enricar

Já bem rico e inserido na elite com fidalgos
Pôs os olhos na filhota do rival que conquistou
E a pobre Bertoleza entregou para escrava
Por tamanho desalento a pobre, enfim, se matou!

E Pombinha, pura moça, que tragédia lhe ocorrera!
Tão ingênua! abusaram da pequena infeliz...
Sua mãe, que ignorante, lhe doara à riqueza
Só colheu de sua escolha uma filha meretriz

E o sério português, cuja esposa venerava?
Depois de ver a baiana, da mulher sentia asco!
Enquanto a pobre sofria, na paixão ele afundava
De Rita virou amante e da esposa carrasco.

Com o bravo Fabiano e sua esposa Vitória
Os meninos e Baleia, a cadela exemplar
Pude ver naquela seca que nada lhes produzia
Homens, cujas vidas secas nunca iam prosperar

Nem se achava no direito de ser chamado de gente
Cabra, apenas, se dizia por contra a morte lutar
Seus meninos, vidas murchas, jogados ao duro acaso
Sofriam a desventura de nascer naquele lar

Não era uma casa triste nem seus pais eram vadios
Cabra macho o Fabiano, e a mulher de valor
Mas do mundo, tão estranho, nada eles conheciam
Quem sabe lá na cidade, um dia serão doutor?

Pois com toda a piedade, naquela seca medonha
Graciliano ajudou aquela gente a mudar
Saindo do anonimato, naquele local fantasma
Forçados vir pra cidade e nova sorte tentar.


Saramago me levou noutra cidade esquisita
A cegueira repentina deixou todos sem visão
Era  uma cegueira branca, mas a luz não resplendia
E aos poucos se acabava o luzeiro da razão


Ninguém podia saber se estava só no quarto
Ou se ao lado da cama outra alma ali jazia
Que horas que ali chegara e se o local era limpo
Nem tampouco quando estava sob a noite ou pleno dia

Mas, para a mulher do médico e pra mim a luz luzia
E fingindo-se de cega, a tudo ela olhava
Não sabia se era bênção ou maldição ter a vista
Que valia ela teria se sozinha enxergava?

Reparei que tal história igualmente eu vivia
Pois por vezes percebi que em meu mundo era assim.
Tantos corpos caminhando, no entanto, só eu via
Multidões indo dispersas caminhando pra seu fim

Estes são alguns dos livros que me aventurei na vida
Porém, fiz muitas viagens, mil aventuras neles vi!
No entanto, o tempo é curto e as folhas não dariam
Pra contar tantas histórias que nos livros eu vivi.

Leila Castanha
25/06/2014











quinta-feira, 19 de junho de 2014

BRINDE À SAÚDE



Imagem extraída de https://www.elo7.com.br/brinde/dp/49AC6D

    
Que dia! Os pássaros não cantam, mas minha alma os ouve
O brilho do sol é ameno, mas o enxergo com intenso fulgor
As pessoas continuam iguais, mas as vejo mais vivas
Estou feliz e não sei por que, mas não me importo com isso
O dia está lindo!

Sinto-me operante como uma máquina novinha em folha
Trabalho com intensidade e não me canso fácil.
Estou produtiva e cheia de idéias novas na cabeça,
E com motivação para fazê-las acontecer.

Estou viva e cheia de energias boas!
Sinto o sangue fluindo em minhas veias e observo cada detalhe ao meu redor:
A casa, recôndito sagrado onde vivo com minha família
O marido e os filhos, extensão de minha vida...
E, que vida! Estou feliz, e essa felicidade emana de minha alma como torrentes sem fim.
Sinto-me viva! Sinto-me forte e disposta! Sinto até vontade de brindar!

- Tim-Tim, leitor! Hoje me sinto outra!
Sinto, no restrito sentido da palavra, que estou gozando de minha saúde.
Quanto tempo esperei por esse dia!
Coisa tão ordinária, que como todas as coisas simples da vida, é essencial para se viver. Não é por acaso que a palavra-chave de um brinde é “Saúde!”.
Essa reflexão merece outro Tim-Tim!

- Saúde, leitor! Brindemos com o coração a essa deusa

Leila Castanha
17/06/2014




        

PROFISSÃO: PROFESSOR?

     
Cuido de crianças enquanto seus pais vão ganhar o pão de cada dia. Não posso descuidar-me de nenhuma para não haver brigas ou qualquer outro tipo de violência entre elas. Cuido para que aprendam conviver em sociedade e respeitem-se mutuamente.
Trabalho com a mente humana e suas complexidades, trazendo o indivíduo ao conhecimento do seu Eu, e ajudando-o a encontrar-se consigo mesmo.
Meu ofício é, também, assegurar a integridade física de dezenas de adolescentes e impedir sua evasão de dentro do recinto , para evitar estranhamento entre eles. E, se no local em que se encontram reclusos houver tumultos e violência entre si, meu dever me força a intervir, a despeito de minha segurança.
Trabalho como mediador, conciliando os que agem de modo ostensivo e contornando os desentendimentos entre as partes, na busca por soluções rápidas e precisas para evitar maiores conflitos.
Sou a pessoa que está grande parte do meu tempo com eles: ouço-os, aconselho-os e os disciplino, quando necessário.  Procuro orientá-los a fazer boas escolhas e construir um bom futuro. Quando crescem e se vão, torço que tenham me dado ouvido e me façam sentir orgulho deles.
Sou ao mesmo tempo: babá, psicóloga, carcereiro, assistente social, mãe e professora, embora tenha  escolhido e me formado para exercer apenas uma dessas funções, pela qual me estribei nos bancos universitários e concorri a concursos a fim de assumi-la.
Sou, única e simplesmente, professora. No entanto, devido à falta de seriedade de nossos governantes, tenho que assumir cargos nos quais não fui habilitada.
E o pior é que, apesar de ser um profissional múltiplo, com múltiplos alunos, que chegam com múltiplos problemas de suas casas, e que dependem de mim para encontrar múltiplas soluções para os seus múltiplos conflitos, trabalho numa escola com múltiplas defasagens, e ainda há quem tenha a cara de pau de me pagar um salário multifacetado.
Sou professora. Um ser humano com limitadas condições de trabalho e de vida (devido ao pouco salário e a falta de infra-estrutura no ambiente profissional), trabalhando em um órgão comandado por políticos limitados, com limitada visão educacional, cuja incompetência limita o nosso trabalho, limita o nosso salário e, consequentemente, limita o futuro do nosso país.
Sou professora. Amo o que faço, e pretendo dar o melhor de mim a fim de educar os filhos deste país. Todavia, acredito que o Brasil só terá solução quando os políticos perceberem que um país sem educação só terá a aprender a falta de respeito ao próximo, herdada de seus governantes, que surrupiam o direito popular e fingem para população que se preocupa com a educação, ao mesmo tempo  que exigem que os professores trabalhem sem estímulo algum, forçando os mais desanimados a fingirem que ensinam, enquanto passam, indistintamente, em nome da chamada progressão continuada, um sem número de alunos, que, por sua vez,  fingem que aprendem.
Futuros líderes de uma nação que tem como espelho políticos que só pensam legislar em causa própria, desprezando àqueles que o constituíram seus representantes.
 Líderes quais espelhos embaçados, onde a moral e a ética não se podem enxergar e que, com suas atitudes, levam nossos jovens a aprenderem o egoísmo, a indiferença e a corrupção.
Líderes sem escrúpulos que no lugar de um eficiente sistema educacional fazem o povo regressar aos tempos da caverna, onde a sobrevivência fica por conta, não dos mais dedicados e prendados, mas dos mais ágeis, dos mais espertos, e dos mais fortes.
Sou professora. Mais não me cabe mais ensinar a disciplina na qual me habilitei, pois o momento urge o ensino da ética e da moral, pois sem a consciência das mesmas, nem sequer consigo lecionar.
Para grande parte dos educandos a vida é um jogo, onde tudo depende da sorte, e não da qualidade de sua educação. 
Sou professora, tentando trabalhar em um país que menospreza o conhecimento, cujos líderes estão pouco a pouco deixando como legado para as futuras gerações a ignorância, cuja filha é a violência, e que tem por pai  a ganância, que, por sua vez, é gerada pelo  egoísmo humano.

Leila Castanha
25/05/2014


sexta-feira, 23 de maio de 2014

REFLEXÃO


 
Enigmáticas sombras

Assombras o presente

Com as sombras do passado.

Envolvendo com a assombrosa

Sombras de incertezas futuras.

 

Com o manto do passado, bates a minha porta

Fazendo intimidar com a penumbra do futuro;

Esqueces que hoje eu farei história

O ontem já não me importo

O amanhã será de glórias!

 

 

Liliane Castanha

27/11/2013

quinta-feira, 22 de maio de 2014

PLACAS REUNIDAS

 


Neste dia numa igreja pequenina contemplei um episódio singular
Num espaço tão simplório, tão humilde, várias placas reunidas no lugar
Crente havia de diversos ministérios, Assembléia, Deus é Amor e da Cristã
Mundial, Palavra que Cura, dentre outras, que citando, ficarei té amanhã
 
Mas o belo que eu vira neste dia não há tempo que me faça esquecer
Cada qual, lado a lado em seu banco, sem na placa do vizinho se ater
Eram crentes, quais soldados reunidos, sendo Cristo o general desta peleja
Povo santo, especial, de boa obra. Indivíduos não havia, só Igreja
 
A igreja do Senhor de cada canto. Uma parte vinda de cada quartel
Um pedaço do seu povo reunido, qual ensaio  pra o congresso lá no céu
Uns louvavam com alaridos de aleluias, outros, pois, com glória a Deus glorificavam
Porém outros, mais quietos, só ouviam, e por fim as sua palmas ressoavam
 
Cada qual fora chamado à tribuna, para a Deus oferecer adoração
De Jesus e seu amor com fé pregavam; não falavam em qualquer religião
Qual sotaque, cada qual com seu costume, de alguns já se sabia qual a placa
Se o fervor se apresentava em volume ou se a sua adoração era mais fraca
 
Mas, nos crentes não se via preconceito. Não havia ali um mais pentecostal
Todos juntos eram crentes fervorosos, mesmo aquele de raiz tradicional
Fervorosos no amor e na virtude, sem se ater ao pormenor da liturgia
Numa mesma sinfonia adoravam e o ambiente era cheio de alegria
 
E os salmos, a leitura preferida, pela grande parte dos que ali estavam
Eu não sei se por ser ele conhecido, ou se os salmos neste evento se encaixavam
Eu só sei que no momento em que eles liam e louvavam ao Senhor de coração
Oh quão bom, vinha o salmo em minha mente, que os irmãos vivessem nessa união!
 
Leila Castanha
27/04/2014
 
 
 
 
 
 

domingo, 23 de março de 2014

O TEMPO URGE


O tempo urge, já diziam os antigos 
Quando na vida ainda eu era um botão
 Tão reticente me soava esta frase
 E eu não via um sentido ou razão 

 Mas hoje longe de meus anos mais dourados
 E meus cabelos já as cãs prenunciando 
A vida urge, digo aos filhos, por clemência 
E leio os olhos deles me ignorando

Porém um dia ao olharem no espelho
Seus anos hão de ver passar tal qual o vento
Como caminhos desenhados pela face 
Virão as rugas sem licença ou argumento

A fantasia dos humanos é a vida 
Cuja firmeza é qual areia em nossa mão 
Que vindo o vento dia a dia lhe espalha 
Até por fim de volta pô-la sobre o chão. 

Esqueça a bela aparência de teu rosto 
E não te espelhe em teu vigor e fanfarrice 
Olha o passado de teus velhos, antes jovens 
E nele veja o teu futuro na velhice 

 O tempo urge, caro amigo, acredite!
 Lembre que o ontem já foi hoje para ti 
Repense a vida e seus frutos pro futuro 
O tempo passa e o amanhã  não tarda a vir. 

 Leila Castanha 23/03/2013