sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

ESTOU DE DIETA


“Estou de dieta!” Anunciei  à minha família.  “Está de regime?” Perguntou algum engraçadinho. Pensei por um minuto e respondi com o orgulho ferido: “Não, estou de dieta, regime é para obesos.”

Menti tão bem que quase acreditei na minha própria mentira. Claro que eu estava de regime, afinal, o propósito do meu sacrifício era para EMAGRECER. Mas admitir isso era o mesmo que admitir que eu estava GORDA. Isso nunca!!! Cheinha, fofinha,  talvez, mas GORDA, jamais!

Algumas semanas passaram e após o regime e muitos copos de berinjela com limão, me surpreendi ao pesar-me: “Uau! - Pensei tentando conter minha vontade de gritar -  Emagreci dez quilos!”

A partir de então, sempre que uma roupa entrava em mim eu mandava tirar fotos. Depois, eu ficava horas a fio comparando o antes e o depois. Pegava as fotos e mostrava a minha família: “Olha como emagreci! Nossa! como eu estava GORDA!”

E tinha mais: Eu fazia questão que me achassem gorda nas fotos anteriores ao meu regime. Agora era elogio. Se eles admitiam que eu era  gorda, significava que concordavam  que eu havia emagrecido mesmo. O problema era quando alguém dizia que não havia reparado a mudança.  Eu tinha vontade de socar essa alma penada, mas contentava-me em apenas ouvir uma vozinha  cheia de despeito gritar lá do fundo do meu orgulho ferido: “Ô inveja!”

 Meus parentes, que há muito não me viam, não escondiam a surpresa em me ver tão esbelta e BONITA! Eram tão convincentes em seus elogios que até deixei postarem fotos minhas no facebook.  E olha que odeio me expor! Mas, conforme alguns diziam, seria um desperdício fazer tanto esforço para emagrecer e não deixar as pessoas constatarem.

Como disse, emagreci dez quilos e estava sorrindo a toa. Muitas vezes, quando eu passava por alguma gordinha sentia um misto de  pena dela  e orgulho da minha força de vontade. “Quem dera fosse tão determinada quanto eu!”

Talvez, hoje eu esteja pagando pelos meus pensamentos anti-gordinhos e meu sentimento de altivez, pois, apesar de meu sucesso em emagrecer e do reconhecimento da maior parte do público, um dia flagrei-me com a boca cheia de doces. Ai, que ódio que senti de mim! Não pude crer que tive uma recaída.

- Não!. - Pensei, afastando o pensamento que tentava me afundar na culpa. - Não sou uma drogada para ter recaídas”.

Enquanto ganhava tempo imaginando a desculpa perfeita para a minha consciência me deixar em paz, enchia cada vez mais meu estômago de porcarias açucaradas e gordurosas.

Nos três primeiros dias, lembrei-me de vomitar. E acredite: Senti-me tão leve como se tivesse malhado horas

Mesmo assim, corri ao espelho para ver se o mal já tinha surtido efeito. Examinei o meu rosto e detectei que ainda estava com aspecto magro.  Os braços não grudavam na manga da camiseta e a cintura ainda aparecia. Sorri aliviada e jurei a mim mesma que esta era a última vez que faria aquela loucura.

Dois dias depois me flagrei comendo um pote de sorvete de creme. A cada colherada meu cérebro se contorcia pela culpa e tentava enviar ao estômago a ordem de parar. O estômago doía e se retorcia como se quisesse convencer a boca de não enviar-lhe mais aquela delícia, que em poucos dias, amargaria como fel. Mas, as mãos não atendiam ao apelo da boca que, sem escolha, recebia mais e mais colheradas daquele demônio gelado.

Após comer o primeiro pote, veio o segundo (comprado só para o outro dia), mas eu sabia o que fazer: Vomitei tudinho e me senti “limpa” de novo.

Outros desvarios se repetiram e em um desses dias em que o pecado vence o pecador, fui vencida pela gula. Desta vez era comida saudável, mas a qualidade foi equiparada a quantidade. Caprichei, embora só descobri isso depois de ter limpado o prato. Os olhos (maior do que a boca) davam uma rápida examinada no corpo e mentiam-me dizendo que não comi muito, mas a consciência (Ô bichinha chata!) essa não me dava sossego, repetindo sua ladainha: “Você é louca? Quer virar uma baleia?!”

Atordoada pela culpa tentei ser mais forte do que ela e deixei passar uns minutinhos antes de botar as tripas para fora. Já que pequei, pensei que deveria  curtir mais um pouco o sabor do pecado antes de expurgá-lo para fora de mim. Nesse meio-tempo precisei fazer alguma coisa urgente  e, meia hora depois, soltei um grito de pavor: “Meu Deus! Esqueci de vomitar!”

Corri para o espelho e olhei minhas bochechas. “Ufa! - Pensei, aliviada. – Parece que ainda estão do mesmo jeito.” Fiz o mesmo com o resto do corpo e comprovei que estava tudo em cima. Senti-me a pessoa mais sortuda do mundo: Depois de tanto esforço para emagrecer, finalmente consegui  alçar a minha meta e agora meu corpo parece ter preguiça de engordar de novo.  Soltei um largo sorriso que, aos poucos, foi virando risada e, por fim, meus filhos me acharam às gargalhadas:

- O que aconteceu, mamãe?, perguntaram-me como se houvessem visto fantasmas.

-O que não aconteceu, queridos! - respondi-lhes nos intervalos das risadas. - Eu não engordei nadinha!”

É verdade que meus filhos também não entenderam nadinha, mas eu estava tão feliz que não podia interromper aquele momento para explicá-los.

Dias depois, me deparei com novos sorvetes, doces e balas. O almoço já estava com uma ou duas colheradas a mais.

Quando me sentia culpada fingia que não havia comido muito e pronto!

A essa altura eu não tinha mais tempo para vomitar. Os afazeres deixavam-me tempo apenas para beliscar algumas guloseimas e voltar ao trabalho.

Aos poucos percebi que uma ou outra peça não cabia mais em mim e observei algumas gordurinhas em volta da minha cintura. O rosto não sei como está, porque faz tempo que não tenho coragem de me olhar no espelho.

Não sei exatamente o quanto engordei, mas com certeza achei alguns quilinhos que havia perdido em meu regime.

Meu marido diz que estou bem, mas não posso acreditar nele porque os homens sabem que se quiserem viver jamais devem dizer a uma mulher que ela está gorda. E ele é um homem muito inteligente!

Meus filhos me amam e jamais me magoariam. Os parentes são educados e aprenderam que nunca devem esconder um elogio, da mesma forma que não devem dizer tudo o que pensam. Só me restou você, que não é meu amigo e nem meu inimigo.

Mas não se preocupe , não vou colocá-lo contra a parede, pois desde pequena fui ensinada que não devo perguntar o que não quero ouvir. E ai de você se disser que estou gorda! Aliás, não sei por que as pessoas confundem tanto as "cheinhas" com as gordas!

Até mais, caro leitor, e assim que recuperar o peso que perdi e depois encontrei, postarei muitas fotos no meu facebook.

Mas, até lá não me censure, pois já me bastam as lágrimas diárias, e, além disso,  você já leu o que Jesus disse  aos que adoram acusar?

“Quem não tiver pecado que atire a primeira pedra!”

Será que você nunca teve uma recaída?


Leila Castanha

01-12-2014

AMO-TE COMO ÉS


Amo-te como  és, do íntimo de minha alma

Tua presença restaura em mim a sonhada calma

Como és eu te desejo, teus trejeitos me alucinam

Qual deus grego os teus beijos me aquecem, me fascinam



Como és assim te amo, pois no coração não mando

Penso e meu raciocínio faz-se louco e não comando

Meus sentidos gritam alto, embora me finja forte,

E o coração  acelera como se a beira da morte



Tu és meu deus do Olimpo e tua vida me inspira 

No batuque de teu peito é que o meu pulmão respira

Desejei ser a senhora para a quem tu’alma clama

Mas tornei-me tua escrava, tua serva, tua ama



Quero-te aos pés de mim, qual dom Juan cortejando,

Tão fino, forte e gentil, com todo fogo me amando

Mas se teu jeito tão rude calca-me sob teus pés

Rendo-me a tua vontade e quero-te como  és.



Pois não aprouve o destino o direito a mim ceder

De amar quem me merece, de um cavalheiro ter

Sou vítima dos desejos que por ti enlouquecidos

Jogam-me, pois a teus pés, pelo amor já vencidos



Sê, pois, meu dono, carrasco, meu algoz e meu senhor

O chefe de minha vida, do meu corpo e meu amor

Quero-te com veemência, mas há uma condição:

Ser tua escrava, contudo, dona do teu coração.



Leila Castanha


15/12/2013